Nobel da Paz. “Milhões de mortes podem estar à distância de uma birra”
Ao receber o Nobel da Paz este domingo, em Oslo, a diretora executiva da Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares avisou que o mundo enfrenta uma escolha importante: “Ou o fim das armas nucleares ou o nosso fim”
O
mundo arrisca-se a enfrentar uma "crise nuclear" decorrente de um
"ego ferido", com "as mortes de milhões de pessoas à distância
de uma pequena birra". Assim avisou Beatrice Fihn, diretora executiva da
Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), este domingo,
no seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel da Paz, numa aparente referência à
crescente troca de ameaças entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e
o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un.
Neste
momento, acrescentou Fihn na cerimônia em Oslo após o anúncio do prêmio em
outubro, a população mundial enfrenta uma escolha: "ou acabamos com as
armas nucleares ou será o nosso fim." Isto numa altura em que "um
momento de pânico" pode conduzir à "destruição de cidades e à morte
de milhões de civis". O risco de se usarem armas nuclares, para a chefe da
coligação de organizações não-governamentais, "é hoje maior do que durante
a Guerra Fria".
Antes
da cerimônia de entrega do prêmio na capital noruguesa, também a diretora do
comitê Nobel, Berit Reiss-Andersen, já tinha alertado que "líderes
irresponsáveis podem chegar ao poder em qualquer potência nuclear" e que,
por esse motivo, o mundo deve estar alerta. Nesse contexto, sublinhou, o
trabalho da ICAN ganha uma importância redobrada não só por chamar a atenção
para os perigos inerentes às armas nucleares, mas também por estar a tentar
erradicá-las.
Nas
suas declarações aos jornalistas, Reiss-Andersen reconheceu o papel importante
desempenhado por Setsuko Thurlow, que sobrebiveu à bomba nuclear que os Estados
Unidos largaram sobre Hiroshima há 72 anos e que hoje é uma das princpiais
ativistas da ICAN.
Criada
em 2007 em Genebra, a ICAN nasceu a par de uma outra organização a favor do fim
das minas anti-pessoal, dedicando-se nos últimos dez anos a alertar para os
riscos humanitários de se usarem armas nucleares. No início deste ano, as
centenas de ONG que compõem a campanha internacional contribuíram para a
votação de uma resolução na ONU pelo fim deste tipo de armamento.
Apesar de 122 países terem dado o seu aval ao tratado em julho, o documento foi boicotado pelas nove potências nucleares mundiais e o único país da NATO que aceitou debater a proposta a ser votada, a Holanda, acabou por votar contra ela. Até agora, apenas três países — o Vaticano, a Guiana e a Tailândia — ratificaram o acordo. Para que entre em vigor, é preciso que pelo menos 50 países sigam esse exemplo.