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A ciência brasileira vai quebrar? Revista Galileu

Orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações em 2017 corresponde a um terço do que foi gasto dez anos atrás

Fonte:  Revista Galileu

Felipe Floresti

Foram quatro presidentes, a desastrada compra da refinaria de Pasadena e, claro, o maior escândalo de corrupção da história do Brasil.

Enquanto diretores e funcionários acertavam as contas com a Justiça — calcula-se que o prejuízo causado pela corrupção na Petrobras ultrapasse os R$ 40 bilhões —, a equipe do Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC) se esforçava para economizar alguns milhões para a estatal. É que a empresa comprometia parte do orçamento com trocas desnecessárias de componentes de equipamentos que ficam abaixo do nível do mar. Como é impossível prever quando determinadas peças estragam, a Petrobras achava por bem substituí-las preventivamente. O objetivo do LNDC era encontrar uma forma de prever o comportamento dessas peças para entender quando elas precisariam de fato ser trocadas.

"A metodologia que normalmente é utilizada está errada. Pegaram o método de medição do aço em ambiente não corrosivo e levaram para o corrosivo”, explica o professor Oscar Rosa Mattos, coordenador do laboratório. No ano passado, a equipe de Rosa Mattos anunciou a descoberta de uma técnica que permite calcular o desgaste das peças. E como a técnica foi desenvolvida por aqui, qualquer outro país que quiser usá-la vai precisar negociar acordos de transferência de tecnologia com o Brasil — uma prova de que ciência não só economiza mas também gera muito dinheiro.

O LNDC foi criado no final dos anos 2000, depois que a exploração do pré-sal trouxe a necessidade de tecnologias que não existiam em lugar nenhum do mundo. Estiveram presentes na cerimônia de inauguração o então presidente Lula e vários ministros, governadores, professores e cientistas. Com 8 mil metros quadrados de área, equipamentos de última geração e investimentos de R$ 40 milhões da Petrobras, acreditava-se que o laboratório impulsionaria a criação de tecnologias com DNA nacional. Boa parte do que foi investido já está se pagando com a economia resultante das descobertas feitas pela equipe de Mattos. O próximo passo seria aproveitar essas informações para desenvolver materiais mais resistentes. Recentemente, no entanto, o LNDC precisou cortar 15 dos 50 pesquisadores de sua folha de pagamento. "Não vamos conseguir iniciar novos projetos por falta de pessoal”, diz Mattos. "Ainda não estamos em uma situação crítica, mas estamos caminhando para ela.”

Casos semelhantes se multiplicam pelo país. Pesquisas sobre o vírus zika estão praticamente paradas por falta de material na Fiocruz de Pernambuco e por problemas elétricos no laboratório da Universidade Federal da Bahia. Até a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsável por boa parte das inovações que tornaram o agronegócio brasileiro campeão em produtividade, está passando por dificuldades. "Fizemos um esforço grande para a redução dos custos fixos, como energia elétrica e vigilância”, conta a diretora de administração em finanças, Vania Castiglioni. "Estamos trabalhando para manter a qualidade da pesquisa, mas chega uma hora que não dá mais.”

O corte de 44% no já minguado orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) previsto para este ano foi a gota d’água para a comunidade científica. Os R$ 5,81 bilhões que seriam investidos em 2017 se tornaram R$ 3,27 bilhões. É a metade do que foi investido em 2005, em valores corrigidos pelo IPCA (veja acima). Nem mesmo a fusão com o Ministério das Comunicações em 2016 serviu para recuperar o orçamento. Diversas fundações estaduais de amparo a pesquisa, como a Faperj, do Rio de Janeiro, enfrentam sérios problemas. Cortes na educação também afetaram as universidades e a concessão de bolsas. "Ciência em qualquer lugar do mundo precisa de financiamento contínuo. Aqui a gente vive de soluços”, diz Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

 O GIGANTE VOLTOU A DORMIR

Em 2009, ano em que o LNDC foi inaugurado, a economia brasileira crescia 7% ao ano, o país se preparava para organizar a Copa do Mundo de 2014 e era candidato a receber a Olimpíada de 2016. Sob comando do físico e professor Sérgio Rezende, o então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação surfava nessa onda. Mais longevo ministro da história da pasta, com cinco anos e meio no cargo, Rezende articulou a comunidade científica, empresarial e o governo com um plano de ação que mudou a escala e o alcance da ciência brasileira.

Uma reportagem publicada na revista Science em dezembro daquele mesmo ano confirmava que a expectativa era grande. A projeção da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) era dobrar ou triplicar o número de alunos, publicações e investimentos até 2020. O objetivo era colocar o país entre os dez maiores produtores de ciência do mundo. Um ano depois, em 2010, a soma dos investimentos do poder público e de empresas privadas em ciência e tecnologia chegava à marca de 1,25% do PIB — em valores nominais, eram R$ 44 bilhões.

Também em 2010 foi publicado o Livro Azul, que traçava um norte para a pesquisa brasileira. Desenvolvido durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, ele simbolizava a criação de uma política de Estado para o desenvolvimento a longo prazo das áreas de ciência, tecnologia e inovação. Essa política apostava na inovação como estratégia para o desenvolvimento sustentável do país, focando em áreas de conhecimento fundamentais para a economia, como agricultura e biocombustíveis, além de defender que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento correspondessem a pelo menos 2% do PIB. Até hoje, o Brasil nunca passou de 1,5%.

Desde a saída de Sérgio Rezende, em 2010, outros sete nomes já assumiram o MCTIC. Desde maio de 2016 o cargo é ocupado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), que prometeu recuperar o orçamento da pasta no segundo semestre. E ele até está com o moral alto entre a comunidade científica — apesar de ter preferido não dar entrevista para esta reportagem, é considerado um "convertido” à causa. No final do ano passado, Kassab conseguiu levar R$ 1,5 bilhão da lei de repatriação fiscal para o Ministério, o que serviu para colocar as contas de uma série de institutos de pesquisa em dia.

Entretanto, nem todos os ministros estão em alta na comunidade científica. "Eu vejo que os ministérios da Fazenda e do Planejamento não estão tendo visão de longo prazo. São míopes”, diz Helena Nader, referindo-se a Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira, respectivamente. "São muito bem informados, altamente qualificados. Fazem questão de falar de Harvard, MIT, Yale, mas não veem ciência e educação como investimento.”

Leia também:
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 DEVAGAR QUASE PARANDO

Apesar de as publicações brasileiras terem correspondido a 2,55% da produção mundial entre 2010 e 2014, o impacto do que é produzido por aqui ainda é bastante limitado. Boa parte de nossos estudos é publicada em revistas científicas de pouca credibilidade. Quando são levadas em consideração somente publicações de alto prestígio, caímos para 1,1% da produção global. Falta também transformar as pesquisas em novos produtos: o país é responsável por somente 0,26% das solicitações de patentes feitas no mundo, e apenas 0,10% delas são concedidas. "Ainda estamos aprendendo a tornar a pesquisa útil, o que não é uma coisa simples”, diz Marcos Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp).

Enquanto o ritmo por aqui está devagar, a China colocou a inovação por meio da ciência e tecnologia como foco principal em seu plano de governo para os próximos cinco anos. O objetivo é chegar em 2020 investindo o equivalente a 2,5% do PIB na área — 40% somente para a ciência básica, aquela cujo único objetivo é obter conhecimento. Japão e Coreia do Sul investem 3% do PIB em pesquisa. Os Estados Unidos investem cerca de 2,8%, e a União Europeia quer chegar a 3% em 2020. A economia de Ruanda passou a crescer 7% ao ano graças ao investimento contínuo de 3% do PIB nessa área.

"O principal fator para o desenvolvimento de uma Coreia do Sul, de uma China ou de uma Índia é a ciência. Esses países não param. Se a gente parar hoje, quando tentar entrar de novo, o mundo já é outro”, afirma Marcos Buckeridge. "Nós estávamos finalmente começando a aprender a tornar a ciência útil. Se interrompermos esse processo, vamos voltar no tempo e depois precisaremos esperar mais 20 anos para amadurecer e retornar ao ponto que estamos agora.”

Hoje, muitos doutores recém-formados não encontram trabalho por aqui: ou abandonam a academia ou vão para universidades no exterior. E, sem ciência feita em casa, vamos continuar tendo que comprar tecnologia velha de quem a desenvolve. "O mundo capitalista funciona assim. Descobrir, depois tornar esse conhecimento útil, desenvolver tecnologia, ganhar mercado e vender esse conhecimento para os outros”, diz Buckeridge. "Se o Brasil quer ser um país capitalista, sem ciência não vai conseguir. Vai ser no máximo um satélite do mundo capitalista.” Uma nada agradável viagem para o passado.

+A ciência no Brasil é bancada pelos pais

Nos últimos oito anos, a petrobras se viu envolvida em uma série de polêmicas.

Despencou!

Orçamento do MCTIC em 2017 é o menor desde o início do governo Lula


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*Previsto

Lá para trás
Brasil ocupa apenas a 69ª posição em ranking internacional de inovação


Global Inovation Index

Mas aquele 1%...
Brasil tem quase 3% da população mundial, mas só 1,1% das publicações em revistas de prestígio


Fonte: World of Research 2015 (Elsevier)

E a ciência, ó...
Investimento em ciência é menor que 2% do PIB


Fonte: Battelle

Quem disse?
Até publicamos muitos artigos, mas poucos são citados por outros pesquisadores





 

Fonte: Scimago Journal & Country Rank



 


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