Clipping de Notícias
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- 26/11/2015 - INB realiza encontros do Plano de Educação AmbientalFonte: A Voz da Cidade
Agulhas NegrasCom o objetivo de aplicar o Plano de Educação Ambiental (PEA) da Fábrica de Combustível Nuclear (FCNP) a Indústria Nuclear do Brasil (INB) anunciou uma série de apresentações de resultados do Diagnóstico Socioambiental Participativo Local, promovido especificamente nas cidades de Areias (SP), Resende e Itatiaia. Os encontros tiveram início nesta segunda-feira, em Areias, onde representantes da INB e comunidade estiveram reunidos na sede da Câmara de Vereadores. Na terça-feira foi a vez da comunidade de Itatiaia participar do encontro promovido na Casa da Cultura, no Centro. Ontem, o programa organizou encontro em Resende, no Espaço Z, no Centro e hoje, às 9h30, será a vez da comunidade de Engenheiro Passos conhecer o PEA, no Salão Paroquial da Avenida Boa Vista. "Esta ação é uma medida de compensação ambiental exigida pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Nesta iniciativa nós temos o apoio de Furnas, as prefeituras de Areias, Resende e Itatiaia, a Eletronuclear, Comunidade Eclesiástica São Benedito e o Ministério do Meio Ambiente”, destaca o coordenador de Comunicação Externa da INB, Mário Moura.
Segundo a bióloga e responsável pela condução do PEA, Flávia Pires, a iniciativa vai aproximar a unidade da INB das comunidades circunvizinhas. Ela esclarece que o Programa de Educação Ambiental prevê a realização de atividades junto ao corpo docente das escolas públicas da região. "O objetivo é fazer a empresa dialogar sobre as questões ambientais com a sociedade na qual está inserida. Afinal, ocupamos um lugar no planeta, temos vizinhos e questões em comum a serem discutidas, a fim de que possamos ter melhorias na construção de uma sociedade mais sustentável”, afirma.
De acordo com a INB, os relatórios semestrais do Programa de Educação Ambiental e de Comunicação Social (PCS) foram entregues ao Ibama, em setembro. "A apresentação desses relatórios semestrais também é uma exigência do órgão fiscalizador. Através dele, o Ibama acompanha as atividades realizadas nesse período. Ao aprovar os relatórios de janeiro a junho de 2015, o Ibama recomendou que os próximos sejam feitos uma vez por ano”, informou Flávia, destacando que a recomendação do Ibama é uma demonstração de que o trabalho da INB agradou. "O primeiro passo que o PEA pretende é fazer a devolutiva para as comunidades de Areias (SP), Itatiaia e Resende nas oficinas participativas e montar um grupo gestor. O objetivo é mostrar para estas comunidades que as atividades vão começar e como serão desenvolvidas”, observa.
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- 24/11/2015 - Compra conjunta gera economia de 38% para 4 órgãos públicosFonte: Portal Brasil
O governo federal registrou uma economia de 38% ao realizar a compra compartilhada de 114 equipamentos de videoconferência para quatro órgãos públicos. A compra foi efetivada no valor de R$ 3,2 milhões. O valor inicialmente estimado era deR$ 5,2 milhões. Ou seja, a economia foi de R$ 2 milhões.Foram atendidos os Ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão e das Comunicações, além da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Para o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Cristiano Heckert, as compras compartilhadas são eficientes porque geram também economia processual. "Essa diminuição do gasto demonstra o quanto a administração pública ganha ao trabalhar de forma conjunta e articulada. Esse modelo deve ser seguido por todos os órgãos”, complementou.
Entre os benefícios da aquisição está a realização de treinamentos e reuniões remotas, reduzindo os gastos com o pagamento de diárias e passagens. Os novos equipamentos de videoconferência permitem, ainda, a realização de chamadas de forma segura.
O trabalho para a aquisição dos equipamentos foi uma parceria entre a Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) e a Central de Compras do Governo Federal. -
- 24/11/2015 - Atraso em pagamento de bolsas preocupa pesquisadoresFonte: Agência CT&IBolsistas do Programa de Capacitação Institucional (PCI) estão com os vencimentos referentes ao mês de outubro atrasados. O repasse dos valores está travado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), responsável pela iniciativa que cria subprogramas nas entidades vinculadas e supervisionadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Atualmente, o PCI mantém 866 bolsistas alocados em 14 unidades do MCTI, entre eles o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - que conta com 193 pesquisadores apoiados-, o Instituto Nacional de Tecnologia (119) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (81). Os depósitos deveriam ter sido realizados em 9 de novembro. Depois foi informado aos bolsistas que os valores cairiam nas contas até o dia 13. O que não ocorreu.
Em nota enviada à Agência Gestão CT&I, o CNPq informa que os pagamentos serão normalizados após análise de todos as propostas de bolsas que estavam vigentes no biênio 2013-2015 e das submissões feitas para o biênio 2015-2017. "O Programa PCI tem duração bienal e, findo o período, cada instituto do MCTI apresenta seu plano para nova fase, com indicações de novos bolsistas que serão avaliados pela Comissão de Enquadramento do PCI (...) Não foi possível à Comissão de Enquadramento realizar a análise dos candidatos no curto espaço de tempo disponível - do dia 5 de outubro até o dia 18 de outubro, prazo inicialmente previsto”, diz trecho da carta.
Conforme a análise dos projetos termina, os bolsistas voltam para folha de pagamento. O lançamento é automático. De acordo com a agência de fomento vinculada ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), a regularização será feita nas folhas de novembro e dezembro, que são pagas, respectivamente, em dezembro de 2015 e janeiro de 2016. "Os candidatos que tiverem as propostas aprovadas receberão valores retroativos a outubro de 2015, ou seja, receberão, ainda que retroativamente, todos os meses que lhes são devidos”, informa o CNPq.
A biblioteconomista e pesquisadora do PCI no Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia (Ibict) Rachel Pereira, foi informada de que o depósito referente a outubro e novembro serão pagos a partir do quinto dia útil de dezembro. "É uma sensação de desespero não conseguir pagar suas próprias contas ", lamenta a Rachel, que é uma das 28 bolsistas PCI no Ibict. "Esse atraso e descaso tem bagunçado toda a minha vida financeira.”
Para o biênio 2015-2017, foram disponibilizadas 809 bolsas a 21 entidades vinculadas ao MCTI. A chamada recebeu 651 indicações. Já foram aprovadas 303 e outras 348 indicações estão sendo analisadas. Até a publicação desta reportagem o CNPq não havia informado quantos bolsistas estão com o pagamento em atraso.
Burocracia e apreensão
Ao assinar o contrato do Programa de Capacitação Institucional, o bolsista garante que se dedicará exclusivamente às atividades de pesquisa do projeto que irá integrar, ou seja, os pesquisadores que estão com os valores atrasados não têm outra fonte de renda.
Pesquisadores do PCI que tiveram a proposta aprovada entre setembro de 2014 e setembro 2015 estão apreensivos. As bolsas foram deferidas quando estava em vigor as regras do biênio 2013-2015. O CNPq determina que, ao fim do período legal, as unidades de pesquisa devem reencaminhar todos os projetos para análise. Além do risco de a regularização ser feita somente em janeiro de 2016, alguns temem que as bolsas sejam cortadas
É o caso de Ana Nascimento, doutora em bioquímica e uma das 33 bolsistas PCI pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). A proposta de bolsa dela voltou para a fila de análise. "Nós que somos bolsistas e nos dedicamos ao desenvolvimento tecnológico e científico do País, vivemos assim, de bolsa em bolsa. Já havia planejado financeiramente mais um ano da minha vida”, lamenta a doutora. "Com o pouco dinheiro que ainda havia sobrado, paguei as contas mais urgentes. Pior que o atraso do pagamento, é existir a possibilidade de ter a bolsa indeferida, não ter como pagar essas contas e não poder concluir o meu projeto de pesquisa.”
Com um novo processo de análise em andamento, projetos de pesquisa que já haviam sido aprovados estão em marcha lenta. "Estão pedindo documentos que não foram exigidos na seleção anterior. Essa burocracia deixa a todos muito chateados. Como vou trabalhar sabendo que minhas contas estão atrasadas e corro o risco de ter o benefício cortado?”, indagou um bolsista que não quis se identificar.
Mestre em ecologia e bolsista PCI no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Monique Maia também está com os vencimentos referentes ao mês de outubro atrasados. "Estava me programando para morar em república já que trabalho fora da minha cidade, mas pedi o cancelamento da moradia. Estou pedindo dinheiro emprestado para o pagamento das despesas normais”, relata a pesquisadora que investiga as condições edáficas do solo Amazônico por meio de base de dados e análises espaciais. Além dela, o Inpa conta com mais 115 bolsistas PCI.
O impacto financeiro do Programa da Capacitação Institucional em 2014, quando eram apoiados 1.215 pesquisadores, foi de R$ 20,1 milhões. Os últimos dados do PCI disponibilizados pelo CNPq mostram que, neste ano, os 866 bolsistas receberam, no total, R$ 13,7 milhões.
(Felipe Linhares, da Agência Gestão CT&I)
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- 23/11/2015 - Pernambuco na medicina de PontaFonte: Diário de PernambucoA medicina nuclear vai até onde outros exames diagnósticos não conseguem ir. Ainda pouco conhecida da população, a especialidade médica que utiliza pequenas quantidades de substâncias radioativas para desvendar o que acontece no metabolismo humano cresce no mundo. Mesmo assim, no Brasil, a especialidade ainda é subutilizada, segundo a própria Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. No país, são 430 serviços – enquanto em países como a Argentina são três vezes mais – e 700 profissionais, quando o ideal seriam 2,1 mil. A transformação desse cenário passa por investimentos na área e desbucrocratização na importação de equipamentos e radiofármacos, aponta o especialista em medicina nuclear Paulo Almeida Filho, em entrevista ao Diario. Professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e médico assistente do Real Hospital Português, Paulo é o único brasileiro integrante de um grupo que pesquisa a utilização de uma nova substância no diagnóstico de infecções, realizada em 12 países, com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
"O diagnóstico precoce é fundamental”
O senhor é o único pesquisador brasileiro integrante de um estudo em desenvolvimento na Agência Internacional de Energia Atômica, sediada em Viena, na Áustria. Pode nos explicar no que consiste essa pesquisa?
A Agência Internacional de Energia Atômica é uma entidade subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU) dedicada a todas as áreas que usam a radiação pacífica. Dentro da agência, existe uma divisão de medicina nuclear, uma especialidade de imagem que usa pequenas quantidades de material radioativo para fazer diagnóstico. A divisão realiza estudos multicêntricos, que envolvem vários países, e fui convidado para fazer um trabalho entre 2011 e 2013. Esse trabalho, com mais de 5 mil pacientes, resultou em uma publicação na The Journal of Nuclear Medicine, a revista de medicina nuclear mais importante do mundo. E também foi eleito o melhor pôster do Congresso Americano de Medicina Nuclear, em Saint Louis. Como esse trabalho deu certo, fui chamado para uma segunda pesquisa, cujo programa começou em 2014 e foi estendido até 2016. Ela envolve uma substância nova, o UBI, que se liga às bactérias que provocam infecção. Então, a gente consegue fazer o diagnóstico da infecção depois de uma cirurgia de coluna.
Qual o impacto do estudo para a população?
É importante detectar a infecção para determinar o tipo de tratamento. Nessas cirurgias, são colocadas próteses, que são um corpo estranho. Então, existe um risco potencial de infecção. Ele acontece de forma proporcional à condição social do paciente e à qualidade do hospital. O diagnóstico falso positivo é hoje um grande problema, pois leva o médico a retirar a prótese, e a pessoa fica um tempo incapacitada. Outro ponto é que, se a infecção não é descoberta, pode progredir e levar à morte. O diagnóstico precoce é fundamental. É um trabalho extremamente promissor. Até o fim do ano, devemos ter uns 150 pacientes no mundo participando da pesquisa.
Os acidentes com motocicletas são hoje uma epidemia. As vítimas lotam três em cada cinco leitos de emergências e UTIs. Pernambuco é hoje o 10º no país em óbitos do gênero. A pesquisa pode ajudar a reduzir esse índice?
Sem dúvida. O UBI pode ser utilizado tanto para infecções de coluna quanto para outras infecções. As fraturas expostas são comuns em acidentes de moto e elas são uma porta aberta para infecções. Muitos pacientes que sobrevivem ao trauma por acidente de motocicleta evoluem para uma doença chamada osteomielite, uma infecção no osso. O UBI vai ter um papel importante na avaliação desses pacientes. Os atuais exames de imagem não podem ser feitos logo após o acidente e retardam o diagnóstico da infecção. Já o UBI consegue atuar.
O PET/CT é considerado o maior avanço da medicina nuclear dos últimos 20 anos. Qual a importância dele para o tratamento de pacientes oncológicos?
É a ferramenta mais importante na imagem hoje na oncologia. Ela consegue fazer o diagnóstico dos tumores de forma bastante precoce, porque as doenças, os tumores, começam como um erro no metabolismo da célula. Depois é que vai haver alteração na morfologia da célula. A tomografia consegue captar a deformidade, enquanto para o PET basta apenas que o metabolismo esteja alterado. O PET também consegue avaliar de forma mais rápida a resposta ao tratamento. Quanto antes se faz o diagnóstico, maior a chance de curar. Quanto antes a resposta é avaliada, você analisa se é preciso mudar o tratamento.
O PET/CT foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) há cerca de um ano. Mesmo assim, há apenas um equipamento para cada 2 milhões de habitantes no Brasil, quando a ONU estima que o ideal seria o dobro. O que dificulta essa expansão do serviço?
Todos os estudos mostram a excelente relação custo-benefício do PET. No final, o tratamento do paciente é mais eficiente e mais barato, mas o exame em si é caro. O SUS começou a cobrir, mas de forma limitada. Nós, do Hospital Português, estamos próximos de ser credenciados pelo SUS para fazer, mas eles não têm recursos para isso. Os planos de saúde cobrem o exame, mas para algumas indicações. Nos Estados Unidos, fizeram um registro nacional de PET em oncologia, onde o médico poderia prescrever para qualquer tipo de câncer, com a obrigação apenas de responder a um questionário com os resultados. Com isso, foi provado que 38,5%, mais de um terço dos pacientes, tiveram o tratamento modificado depois do PET. Se considerado só o câncer de pulmão, isso subiu para 50%. É uma otimização no tratamento grande. Hoje em dia não se admite fazer tratamento oncológico sem PET, e as autoridades precisam entender.
Em outubro, durante o 29º Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear, no Rio de Janeiro, foi discutida a subutilização da medicina nuclear no Brasil. O país é o 25º em exames realizados por ano no mundo. O que, historicamente, explica essa subutilização?
Até o começo dos anos 2000, a produção de material radioativo no Brasil era monopólio da União. O governo não produzia nem deixava produzir. Então, atrasamos muito. Agora estamos correndo atrás do prejuízo. Como somos um país heterogêneo, a maioria dos serviços de medicina nuclear é concentrada no Sudeste. Lá, os números são comparados aos de países desenvolvidos. Saindo do Sudeste, a expansão é lenta. Primeiro, por essa questão da queda do monopólio, e, segundo, por falta de educação médica na utilização dessa tecnologia e do desenvestimento geral na área. Mas a medicina nuclear tem crescido no Brasil.
Equipamentos e insumos para a medicina nuclear são, em sua maioria, importados. Isso também dificulta a expansão da área no Brasil?
As dificuldades são imensas. Há muitos fármacos e equipamentos sendo lançados, já usados na Europa e Estados Unidos, aprovados pelos órgãos internacionais, mas que no Brasil demoram mais de dois anos para serem liberados. Os entraves burocráticos são grandes. A licença demora no país por causa das papeladas. Não há ninguém capacitado na Anvisa para dizer se os equipamentos são bons ou ruins. O Brasil é tão paradoxal que quem mais produz radiofármacos aqui é o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), mas ele não consegue atender às demandas da Anvisa. Por questões burocráticas, o mesmo órgão queria que revalidássemos coisas que usamos há 40 anos. O UBI, por exemplo, já é utilizado no México há 10 anos, com sucesso. Aqui ainda vamos começar o processo de liberação.
Como é a situação do Nordeste nesse quesito?
Temos PET no Nordeste inteiro. No Hospital Português temos um dos mais bem equipados serviços de medicina nuclear do Brasil. Iremos, até o início do próximo ano, iniciar os estudos com outra substância para tumores neuroendócrinos e tumores de próstata. No Recife, temos cerca de oito serviços. Salvador também tem serviços de referência. Isso só ocorre, porém, por causa da iniciativa privada. Os centros de referência do estado, como o Inca, no Rio, estão se deteriorando.SAIBA MAIS
Medicina Nuclear no Brasil
430 serviços
700 médicos nucleares
O ideal seria 3 x mais
37 radiofármacos comercializados
5 mil PETs-CT realizados pelo Inca desde 2010
23 centros de formação de médicos de medicina nuclear
Serviços de PET-CT
50% no Sudeste
16% no Sul
15% no Nordeste
No Real Hospital Português
900 e 1 mil
procedimentos por mês
5 equipamentos
Fonte: Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e Real Hospital Português -
- 21/11/2015 - Movimentos sociais reforçam resistência contra instalação de usina nuclear no CearáLevantamento do Núcleo Tramas aponta que pelo menos 156 localidades poderão ser expostas aos riscos de desequilíbrio hídrico e radioatividade
Levantamento do Núcleo Tramas aponta que pelo menos 156 localidades poderão ser expostas aos riscos de desequilíbrio hídrico e radioatividade
Fonte: Rede Brasil AtualEnquanto 24 carros-pipa são destinados às necessidades mensais de todas as famílias que vivem na comunidade Riacho das Pedras, em Santa Quitéria, no Ceará, o equivalente a 115 desses caminhões seriam dirigidos a cada hora somente para um empreendimento de exploração mineradora no local. Estamos falando do Consórcio Santa Quitéria, um projeto que quer instalar um complexo industrial dedicado à exploração mineral e à produção de energia nuclear. Há poucos dias, setores dos movimentos sociais, da sociedade civil organizada e lideranças comunitárias estiveram reunidos para discutirem a questão, durante a 2ª Jornada Antinuclear do Ceará, no próprio município atingido.
Promovida pela Articulação Antinuclear do Ceará (Aace), em parceria com movimentos sociais, pesquisadores, entidades e organizações não governamentais, comunidades da região e com a Articulação Antinuclear Brasileira, o evento trouxe como tema "A defesa da vida e a resistência antinuclear no Brasil”. Segundo o biólogo Rafael Dias de Melo, também conhecido como Potiguar, que acompanha as lutas populares em torno da questão, a articulação da resistência inicia uma nova fase, depois que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) para a instalação do complexo nuclear foi apresentado em junho deste ano pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), sem considerar as denúncias da população.
"Um dos objetivos é retomar a força desse debate, que havia tido um pico no momento das audiências públicas do Ibama, mas que, no processo de licenciamento ambiental, esse debate havia arrefecido um pouco. Retomamos o diálogo principalmente com as comunidades do entorno”, indica Potiguar, que é mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Núcleo Tramas - Trabalho, Meio Ambiente e Saúde, também da UFC.
Segundo o pesquisador, duas galerias já foram abertas na localidade, de onde se pode extrair urânio, com alto teor de fosfato. Desde então, os moradores dizem que não têm acesso a nenhuma informação, com exceção das que chegam por meio dos movimentos sociais. "A gente vai constatando uma grande negligência. Os moradores relatam que inalam poeira e temos também a insegurança hídrica”, afirma Potiguar. Levantamento do Núcleo Tramas aponta que pelo menos 156 localidades poderão ser expostas aos riscos de desequilíbrio hídrico e radioatividade, enquanto estudos das empresas minimizam esse número para "apenas” 16 comunidades.
O Consórcio Santa Quitéria é formado pela empresa privada Grupo Galvani e pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). A primeira tem interesse na extração de fosfato para a produção de fertilizantes químicos e ração animal, destinados ao agronegócio; já a INB é responsável pela mineração do urânio, matéria-prima para geração de energia nuclear.
A reserva de urânio e fosfato de Itataia, em Santa Quitéria, foi descoberta em junho de 1976 e sua viabilidade constatada 10 anos depois. Essa jazida de urânio é a última prospectada para o país e, atualmente, encontra-se em fase de licenciamento ambiental pelo Ibama, sem data para ser liberado. Ainda assim, o Consórcio já tem planos traçados, pretendendo explorar a futura mina a partir de janeiro de 2018, com investimento em torno de R$ 850 milhões.
De acordo com a Aace, desde 2010, as comunidades do entorno da mina, movimentos sociais, entidades não governamentais e pesquisadores da universidade têm se organizado para discutirem o projeto, sobretudo os impactos socioambientais da chegada de um grande empreendimento na região, constituída de comunidades e assentamentos rurais com atividade agrícola. A Articulação alerta que os riscos relacionados à exploração de urânio radioativo incluem a contaminação do solo, do ar e da água, além do desenvolvimento de doenças, como o câncer, causadas pela exposição à radioatividade.
"Essa mina de incertezas e riscos à saúde humana quer nos conduzir às mãos de um consórcio, formado por uma estatal e uma empresa privada, cujas ações (60%), pertencem a um grupo norueguês. Na Noruega, entretanto, não se admite a matriz nuclear”, observa Talita Furtado, advogada da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (Renap), em artigo publicado na imprensa. "Nesse cenário, o Estado funciona também como mão amiga para a empresa mineradora: mesmo em tempos de crise sistêmica, garante a infraestrutura para a obra – adutora, linhas de transmissão de energia e escoamento da produção”, destaca a advogada.
De acordo com Talita, alega-se que o projeto vai gerar empregos. Entretanto, nos 20 anos de operação da jazida, seriam apenas 515 funcionários diretos e outros 120 terceirizados. "Qual a segurança e qualidade de vida desses trabalhadores?”, indaga a advogada. "Que desenvolvimento é esse? Restam-nos insistir em outras mãos: repletas de vontade para rejeitar o projeto de mineração de urânio em Santa Quitéria, e que afirmem que não aceitaremos os riscos e a insegurança da iniciativa”, enfatiza a ativista.
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- 20/11/2015 - Finanças amplia beneficiários da pensão especial para vítimas do césio-137Fonte: Jornal do BrasilA Comissão de Finanças e Tributação aprovou proposta que determina a concessão de pensão especial a todos os servidores e empregados públicos, civis ou militares, que foram expostos à radiação do césio-137, ocorrida em setembro de 1987 em Goiânia (GO). Pela proposta, a condição de vítima do acidente será comprovada por meio de laudo médico.
O texto aprovado é osubstitutivo do Senado ao Projeto de Lei 816/03, do deputado Sandes Júnior (PP-GO). Oprojeto original, aprovado pela Câmara em dezembro de 2003, incluía entre os beneficiários da pensão especial os integrantes das Forças Armadas, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Goiás. Atualmente, de acordo com aLei 9.425/96, que determina pensão às vítimas do acidente radioativo, os únicos servidores públicos contemplados são os funcionários da Vigilância Sanitária, pois o prédio do órgão chegou a abrigar o césio-137 e foi lá que o físico Walter Mendes Ferreira, com o auxílio de um dosímetro, comprovou a contaminação radioativa.
O parecer do relator, deputado Rubens Otoni (PT-GO), foi favorável ao substitutivo do Senado. O texto aprovado pelos senadores também atualiza a pensão para R$ 750 e determina que todas as vítimas recebam esse mesmo valor. O valor será reajustado anualmente, conforme os índices concedidos aos benefícios de valor superior ao piso do Regime Geral da Previdência Social.
Pela lei atual, a pensão especial hoje varia entre 150 e 300Ufirs, dependendo da gravidade da contaminação. Porém, segundo informações do Ministério da Fazenda, em função de ação civil pública, o pagamento da indenização é feito com base no salário mínimo. Conforme o ministério, atualmente são 208 beneficiários de um salário mínimo mensal e um beneficiário de dois salários mínimos (em virtude de decisão judicial).
Impacto orçamentário
O relator ressalta que não é possível determinar de antemão o número de laudos positivos que serão elaborados pelas juntas médicas. "Resulta tecnicamente inviável a exata estimativa do gasto adicional a ser incorrido pelo Tesouro Nacional, em função dos novos beneficiários”, disse.
Porém, para ele, essa impossibilidade técnica não pode resultar na inadmissibilidade e consequente rejeição do projeto. "A responsabilidade civil do Estado diante deste lamentável acidente é clara. Assim sendo, se os devidos encargos decorrentes dessa responsabilidade não fossem assumidos por uma iniciativa legislativa como esta, isso acabaria acontecendo de qualquer maneira, em decorrência de decisões judiciais”, apontou Otoni.
Acidente
O acidente radioativo ocorrido em Goiânia, em 13 de setembro de 1987, foi provocado por uma peça de 120 quilos abandonada, que continha cerca de 19 gramas de cloreto de césio-137. Dois catadores de papel e de sucata – Roberto da Silva e Wagner Motta – conseguiram desmontar uma parte de um aparelho de radioterapia, espalhando pequenas quantidades da substância entre amigos, vizinhos e clientes. Devair Alves Ferreira comprou dos dois o núcleo do aparelho, de onde saía uma luz intensa e azul (o césio), que passou a atrair diversas pessoas ao ferro-velho.
O número oficial de mortos devido à contaminação, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, foi de quatro pessoas, entre elas Devair, sua mulher, Maria Gabriela, e a filha do casal, Leide das Neves Ferreira, de seis anos. No entanto, a Associação de Vítimas do Césio-137 estima que o acidente tenha causado 81 mortes, e contaminado ou irradiado outras 1.500 pessoas.
Tramitação
Antes de ir ao Plenário, a proposta ainda será examinada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
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- 19/11/2015 - Cade abre processo contra sete construtoras no caso Angra 3Fonte: Site UOL
RAQUEL LANDIM
DAVID FRIEDLANDER
BRUNO FÁVERO
DE SÃO PAULO
Após três meses de apuração, o Cade (Conselho de defesa Econômica) abriu processo nesta quarta (18) contra sete construtoras e 21 pessoas suspeitas de conluio para fraudar a disputa pelas obras da usina nuclear de Angra 3.As empresas são formalmente acusadas de atuar em cartel para fixar preços e dividir o mercado. Os contratos da licitação das obras, que pertencem à Eletronuclear, chegavam a R$ 3 bilhões.
Conforme o Cade, as construtoras se dividiram em dois consórcios e, em vez, de competirem entre si, combinaram os lances do leilão para obter o maior preço possível.
Os executivos dos consórcios, que que não deveriam se comunicar, faziam seus acertos por e-mails e em reuniões no escritório da Queiroz Galvão no Rio. As firmas se referiam a si mesmas como "Grupão" ou "Conselhão".
Os e-mails e documentos que embasam a investigação foram entregues ao Cade em julho pela construtora Camargo Corrêa, que fez acordo de leniência com o órgão.
As acusadas são Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo, EBE, Techint e UTC, além de funcionários e ex-funcionários dessas empresas.
Se forem condenadas, as construtoras terão de pagar multa de até 20% do faturamento naquela área de negócios. No fim do processo a Camargo poderá ser perdoada e ficar isenta de multa.
OUTRO LADO
A Camargo disse que está colaborando com as investigações. A Queiroz afirmou "que sempre pautou suas atividades pela ética e pelo cumprimento da legislação".
A EBE disse que não foi comunicada oficialmente. A Odebrecht disse que se manifestará no processo. Andrade e a UTC não quiseram se manifestar. A Techint não deu retorno.
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- 16/11/2015 - Governo anuncia mudanças na presidência da Finep e na SepinFonte: Agência CT&I
O processo de trocas continua no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Agora as mudanças atingiram a presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Secretaria de Políticas de Informática (Sepin) da pasta. As alterações foram divulgadas nesta segunda-feira (16) no Diário Oficial da União (DOU).
Na agência de fomento, sai o cientista político Luís Fernandes que ficou no cargo por sete meses. Em seu lugar entra Wanderley de Souza, anteriormente diretor de projetos do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
Souza já foi secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado do Rio de Janeiro (Secti-RJ). Atuou também como secretário executivo do MCTI entre 2003 e 2004. Além disso, chefiou o Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer, que estuda os fenômenos relacionados à sobrevivência e diferenciação neuronal, bem como a importância das interações neuro-imunes.
O novo presidente da Finep possui graduação em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela UFRJ e doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica) também pela UFRJ. Tem atuado junto a várias sociedades científicas nacionais e internacionais, como a Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica e a Interamerican Society for Electron Microscopy, onde ocupou posições de vice-presidente e presidente.
Sepin
O DOU de hoje também divulga a exoneração de Virgílio Almeida da chefia da Secretaria de Políticas de Informática do MCTI. Em seu lugar entra Manoel Augusto Cardoso da Fonseca, que estava na Coordenadoria-Geral de Modernização e Informática do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Almeida deixa a equipe do ministério para assumir o cargo de professor visitante na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Em sua gestão, iniciada em 2011, foram lançados importantes programas, entre eles o Brasil Mais TI e o Start Up Brasil, e ações como editais para fortalecer a indústria nacional de microeletrônica e a Certics, um certificado para comprovar se um software é resultado de pesquisa e desenvolvimento no País.
(Agência Gestão CT&I)
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- 16/11/2015 - Como descobrir se uma usina nuclear poderá ser uma Chernobyl ou uma FukushimaFonte: Jornal da Ciência
Artigo de Sidney Luiz Rabello, engenheiro em Segurança de Usinas Nucleares e membro da Comissão Nacional de Energia Nuclear, para o Jornal da Ciência
Nas usinas de Chernobyl e de Fukushima e, anteriormente, em Three Mile Island (TMI), ocorreu o acidente de fusão do combustível nuclear, o urânio. Este acidente é conhecido como acidente severo e não fazia parte do projeto de segurança destas usinas ou das usinas de projeto da década de 1970.
Antes de caracterizar os recursos de projeto que permitem o reconhecimento se uma usina nuclear pode resistir ou evitar acidentes severos e os fenômenos associados, algumas noções básicas são necessárias para garantir uma visão abrangente.
Como a energia nuclear gera energia elétrica
Quando há a divisão do urânio em duas partes (fissão nuclear), é gerado calor. Este calor produz vapor d’água, que gira uma turbina, que gira um gerador elétrico, que envia energia elétrica aos consumidores por linhas de transmissão. É o mesmo processo que ocorre nas demais usinas térmicas. O carvão, o óleo combustível do petróleo e o gás são queimados e geram calor. Este calor gera vapor e assim por diante. Portanto, uma usina nuclear não é nada mais que uma chaleira nuclear.
Por que o reator nuclear é desligado, mas ele não desliga
Na verdade, quando se desliga um reator nuclear se interrompe a reação nuclear em cadeia e 99% da geração de calor. O problema é o 1% de calor restante, que não se consegue desligar, gerado pela radiação dos fragmentos de fissão, que são as partes em que o urânio foi dividido decorrente da fissão nuclear.
Um por cento parece muito pouco, mas não é. Angra 1 gera 600 MW de energia elétrica ou 1800 MW de calor. Desligada, Angra 1 continua gerando 18 MW de calor que seria capaz de alimentar 180 mil lâmpadas incandescentes de 100 W ou 1,8 milhão de lâmpadas LED de capacidade de iluminação equivalente ou ainda de atender mais de 80 mil residências de consumo médio mensal de 157 kWh (08/2015), utilizando-se a equivalência de energia elétrica. E pior, este calor é suficiente para derreter ou fundir o núcleo do reator. Portanto, o 1% de calor restante, conhecido como calor residual, representa muito calor e muita água é necessária para retirar este calor para impedir a fusão do núcleo.
Isto é surpreendente, pois as outras usinas térmicas não tem este calor residual: desligou-se o gás, interrompeu-se a queima do carvão e do óleo combustível, a geração de calor acaba imediatamente. Então, a chaleira nuclear é perigosa por causa do calor residual, isto é, desliga-se a usina nuclear, mas ela continua a gerar calor. Este é o perigo real que dá início a acidentes de grandes proporções. Se não se retira este calor, o reator se funde, o material radioativo pode ir para o meio ambiente, alcançar grandes distâncias como ocorreu nos acidentes de Chernobyl e Fukushima e complicar a vida de quem vive nas regiões atingidas.
O que é um Acidente Severo
De acordo com a definição da Agência Internacional de Energia Atômica, um acidente severo é um acidente que envolve degradação significativa do núcleo do reator. Em outras palavras, significa a fusão parcial ou total do urânio no interior do reator. A causa é a falha da refrigeração do reator, isto é, a falta de água para retirar o calor residual.
Por que antes de TMI o acidente severo não era considerado
O acidente de 1979 na usina de Three Mile Island (TMI) nos EUA mudou a história (e o projeto) da segurança nuclear. Antes de TMI, era considerado no projeto de segurança nuclear um conjunto de acidentes frequentes e de baixa probabilidade de ocorrência, isto é, para este conjunto de acidentes, esperava-se que o projeto de segurança nuclear garantisse que nenhum material radioativo seria liberado para o meio ambiente (princípio de defesa em profundidade). Este conjunto de acidentes não incluía os acidentes severos de fusão do núcleo do reator de probabilidade muito baixa de ocorrência.
A exclusão dos acidentes severos era reforçada pela crença de que a duplicação dos sistemas de segurança, chamada de redundância e decorrente da aplicação do princípio de falha simples, seria suficiente para evitá-los. Antes de 1979, acreditava-se que, durante um desligamento inesperado ou em função de acidentes, se falhasse um sistema de emergência de água de refrigeração do núcleo do reator, um segundo sistema, uma duplicação do primeiro, seria suficiente para impedir a fusão do núcleo do reator. O acidente de TMI veio a demonstrar que isto nem sempre é verdade, pois ocorreram falhas múltiplas, desencadeando um acidente severo com fusão de cerca de 50% do núcleo e uma explosão de hidrogênio dentro do Edifício de Contenção, felizmente de proporções limitadas a 50% da pressão de projeto. Só não foi um acidente mais grave com fusão total do núcleo e com liberação abundante de hidrogênio, desafiando o Edifício da Contenção, por fatores circunstanciais.
As múltiplas falhas que levaram ao acidente de TMI decretou a fragilidade do princípio de falha simples e ficou evidenciado que os acidentes severos de fusão do núcleo do reator deveriam estar incluídos no projeto de segurança de todas as usinas novas. As usinas em operação deveriam ser reformadas, com o objetivo de garantir que o material radioativo resultante do acidente não seja liberado para o meio ambiente ou então liberado em quantidades bem limitadas. Na década de 1980, a Agência de Segurança Nuclear dos EUA (USNRC) estabeleceu regulamentação exigindo que os acidentes severos de fusão do núcleo fossem incorporados ao projeto de segurança nuclear, acompanhada posteriormente pela regulamentação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Particularmente, após a transformação em lei da Convenção de Segurança Nuclear em 1999, o Brasil se comprometeu na aplicação dos princípios fundamentais e das normas (diretrizes) de segurança formuladas pela AIEA (inciso VIII do preâmbulo da Convenção). O artigo 6° da mesma Convenção estabelece que o Brasil garantirá a segurança das usinas existentes através da introdução de melhorias para elevar o nível de segurança. Estes dois itens da Convenção estabeleceram para o Brasil, a partir de 1999, o compromisso internacional de incluir os acidentes severos de fusão total do núcleo no projeto das usinas novas e a realizar reformas nas usinas em operação para limitar ou evitar a liberação de material radioativo em caso de ocorrência de acidentes severos.
Os fenômenos gerados pelos acidentes severos de fusão do núcleo
(1) Ejeção do Núcleo Fundido a Alta Pressão: O núcleo fundido é ejetado do vaso do reator à alta pressão para o interior do Edifício da Contenção;
(2) Temperaturas e Pressões: Juntamente com a ejeção do núcleo fundido para a contenção, haverá a liberação de grande quantidade de vapor e o Edifício da Contenção será submetido a altas temperaturas e pressões;
(3) Detonação de Hidrogênio: O núcleo fundido, em contato com a água do reator e, quando ejetado, com a água do piso do Edifício de Contenção, causará a formação de grandes quantidades de hidrogênio, decorrente da dissociação da água. As quantidades de hidrogênio envolvidas tem grande potencial de detonação na presença de oxigênio do Edifício de Contenção;
(4) Decomposição do Concreto do Piso da Contenção: O núcleo fundido ejetado para a contenção entrará em contato direto com o concreto do piso, provocando a sua decomposição, podendo atingir o lençol freático, e a geração de grandes quantidades de monóxido de carbono, que em contato com o oxigênio também pode gerar explosões; e
(5) Explosão de Vapor: O contato do núcleo fundido a alta temperatura com a água fria poderá causar instantaneamente explosões de vapor de diversas intensidades, em alguns casos, superiores à decorrente da detonação de hidrogênio.
Depois do acidente de TMI de 1979, adotou-se a estratégia para o projeto de segurança nuclear de diminuir a probabilidade de ocorrência de acidentes severos dentro do razoável e introduzir recursos de projeto para impedir a liberação de material radioativo para o meio ambiente no caso da ocorrência da fusão total do núcleo do reator.
Estes recursos são de dois tipos:
(1) evitar que os fenômenos ocorram, por exemplo, impedir a ejeção do núcleo a alta pressão, despressurizando o reator a tempo; ou
(2) incluir sistemas, estruturas e dispositivos para controlar ou mitigar os fenômenos e manter contido o material radioativo no Edifício de Contenção do Reator.
Como o projeto de segurança nuclear evita a liberação de material radioativo para o meio ambiente
Antes, como depois do acidente de TMI, a estratégia de projeto é a mesma, ou seja, a última barreira de proteção do meio ambiente não pode ser ultrapassada pelo material radioativo. A última barreira é conhecida como Edifício de Contenção, em geral uma estrutura de aço onde o reator nuclear está instalado. Portanto, a partir da década de 1980, o Edifício da Contenção e seus sistemas passaram a ser projetados para resistir aos fenômenos decorrentes do acidente severo de fusão do núcleo do reator.
Como vimos anteriormente, o Edifício da Contenção é projetado para resistir apenas a fenômenos internos decorrentes de acidentes. Para protegê-lo de fenômenos externos (chuvas, ventos fortes, marés, tsunamis, ruptura de barragens, explosões, atos terroristas, etc.), é construída uma barreira de concreto especificamente projetada para esta finalidade. Esta estrutura de proteção do Edifício de Contenção tem o nome de Edifício do Reator, que também tem a finalidade de servir de blindagem de radiação.
Afinal, como reconhecer se o projeto de segurança inclui o acidente de fusão do núcleo
Para este reconhecimento, o projeto de segurança exige uma análise detalhada de Engenharia para se concluir se resiste aos fenômenos decorrentes da fusão do núcleo do reator, como a introdução de dispositivos de despressurização do reator e a resistência à pressão e temperatura do Edifício da Contenção.
No entanto, a ejeção do núcleo fundido para fora do reator implica em cuidados que requerem um layout especial para o Edifício da Contenção de fácil reconhecimento. É necessário um Tanque Coletor para o Núcleo Fundido ("core catcher”) projetado para impedir a decomposição do concreto do piso do reator.
O Tanque Coletor para o Núcleo Fundido requer refrigeração para não ser danificado e, então, deve ser previsto um sistema de refrigeração exclusivo para resfriar o núcleo fundido, sem necessidade de uso de energia elétrica e contando com um grande Reservatório de Água.
Portanto, a inclusão do acidente de fusão do núcleo no projeto de segurança pode ser reconhecida prontamente se, no interior do Edifício da Contenção, encontram-se o Tanque Coletor para o Núcleo Fundido e o Reservatório de Água do Sistema de Refrigeração.
No caso do projeto de segurança do reator EPR (Evolutionnary Pressurized Reactor) da projetista francesa AREVA, o Tanque Coletor para o Núcleo Fundido e o Reservatório de Água podem ser identificados facilmente. Isto pode ser visto no vídeo demonstrativo "AREVA – Safety profile of the EPR reactor” no endereço https://www.youtube.com/watch?v=QHoaJmK2aac. O primeiro EPR da AREVA teve sua construção iniciada em agosto de 2005 na Finlândia, Olkiluoto-3, de 1600 MW. A solicitação da licença de construção foi requerida em janeiro de 2004.
Então, o Gerenciamento de Acidentes Severos por si só não resolve nada
Exatamente, não resolve nada. O Gerenciamento de Acidentes Severos é um conjunto de instruções escritas na forma de procedimentos com a finalidade de orientar os operadores como atuar durante um acidente severo.
É apenas um papel escrito e não inclui Tanque Coletor do Núcleo do Reator e o Reservatório de Água dentro do Edifício da Contenção, nem recursos físicos para se evitar a detonação de hidrogênio, a explosão térmica ou ainda a ejeção do núcleo fundido a alta pressão.
O Gerenciamento de Acidentes Severos apenas orienta os operadores na utilização adequada dos recursos físicos existentes, que podem ser muito limitados se o acidente severo não for incluído no projeto de segurança da usina. Não havendo os meios adequados, como nas usinas de projeto da década de 1970 não reformadas, o Gerenciamento de Acidentes Severos não impedirá a evolução do acidente severo para situações de grandes liberações de material radioativo para o meio ambiente, tais como Chernobyl e Fukushima.
Deve-se ter uma atenção especial na identificação de informações diversionistas, pois a pomposidade do nome "Gerenciamento de Acidentes Severos” pode ser utilizada como meio de se criar ilusões de que a segurança nuclear possa estar garantida. O Gerenciamento de Acidentes Severos pode ser apenas uma pintura bonita em cima de uma lataria totalmente podre, que se desfaz assim que a compra do carro se realiza (ou que o acidente ocorra).
* As opiniões do autor não necessariamente refletem as posições da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
** A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.
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- 16/11/2015 - CNEN instala rede para dar mais segurança ambiental à região próxima a usinas nuclearesFonte: Site MCTI
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) implantou uma rede de monitoração radiológica no entorno da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) para aumentar a segurança da região. Os equipamentos instalados entre as cidades de Paraty e Angra dos Reis, ambas no Rio de Janeiro, verificam, em tempo real, elementos radioativos eventualmente presentes no meio ambiente e avaliam dados relativos à precipitação pluviométrica.
O objetivo da iniciativa é promover a avaliação contínua das condições de segurança radiológica da área ao redor das usinas de Angra 1 e Angra 2 e prover resposta imediata a qualquer eventual liberação de resíduos radiológicos.
A instalação das seis estações de monitoração radiológica (EMRs) ficou a cargo dos técnicos da Coordenação Geral de Reatores e Ciclo Combustível e do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), ambos ligados à Cnen. Essa ação foi precedida de estudos de adequação das condições meteorológicas, de proteção radiológica e de densidade populacional da região, além de se basear no plano de emergência. A iniciativa contou ainda com a colaboração do Colégio Naval e da Administração do CIEP Guignard, assim como da Defesa Civil de Paraty e da Eletronuclear.
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- 16/11/2015 - Laboratório associado ao Cietec assina convênio de P&D com o IPENProjeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Projeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Fonte: Agência Fapesp
O Laboratório Biosintesis – associado ao Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) – e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) fecharam acordo para o desenvolvimento de novas técnicas e metodologias para pesquisa in vitro na área de segurança e eficácia de radiofármacos e biomateriais.
O convênio tem como objetivo criar uma metodologia inédita para estudos em materiais biológicos e medicamentos radiológicos. Os estudos serão desenvolvidos dentro dos princípios de boas práticas de laboratório (BPL), um sistema de qualidade adotado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para todos os países membros. As normas estabelecem requisitos ao processo organizacional e condições técnicas para estudos não clínicos de segurança à saúde humana e ao meio ambiente.
"A exposição e a utilização de produtos seguros é uma preocupação constante para a sociedade, indústria e órgãos regulamentadores. O uso de metodologias in vitro, em ensaios biológicos validados e monitorados por sistemas de qualidade robustos, possibilita a realização de estudos de segurança e eficácia com grande rapidez, precisão e rastreabilidade dos resultados", afirma Fabiana Medeiros, diretora da Biosintesis.
Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec, sublinha que "as normas que serão utilizadas nos estudos seguirão padrões internacionais, o que colaborará para o reconhecimento global dos produtos desenvolvidos a partir delas".
Marcelo Linardi, diretor de P&D e Ensino do Ipen, salienta a importância do convênio de Inovação Tecnológica com empresas incubadas. "O caminho da inovação tecnológica é vital para a política de continuidade dos Institutos de Pesquisas, pois dá o retorno à sociedade do investimento público em P&D, justificando todo o processo, gerando melhoria da qualidade de vida do brasileiro."
O documento que estabelece o convênio entre a Biosintesis e o IPEN estabelece um prazo de dois anos para o trabalho. De acordo com Medeiros, "inicialmente a tecnologia tem aplicação na radiofarmácia do Ipen e poderá ser desdobrada para outros segmentos da saúde".
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- 14/11/2015 - Tempos de crise no setor da energia nuclearA energia nuclear não emite gases efeito estufa, no entanto, seu futuro é incerto nos países desenvolvidos
A energia nuclear não emite gases efeito estufa, no entanto, seu futuro é incerto nos países desenvolvidos
Fonte: site Opinião e Notícia
A queda nos preços das commodities nos Estados Unidos e na Europa está ameaçando o futuro da energia nuclear, já abalado pelo desastre nuclear de Fukushima Dai-ichi em 2011, no Japão. A revolução do gás de xisto nos EUA, o suprimento crescente de energia renovável subsidiada na Europa e a demanda menor de energia elétrica em ambos os lugares diminuíram drasticamente os preços no mercado atacadista de energia.
Nesse contexto, muitas usinas de energia nuclear estão com dificuldade de cobrir os custos de funcionamento e, em consequência, os donos têm sido obrigados a fechá-las. Ironicamente, em um momento em que os países do mundo inteiro estão se comprometendo em diminuir as emissões de carbono, o encerramento das atividades das usinas nucleares tem com frequência provocado a queima de mais combustíveis fósseis. Além disso, a capacidade da energia renovável não soluciona o problema; na ausência do vento e do sol, a energia nuclear ainda é a melhor fonte de energia com um baixo nível de emissão de carbono "baseada” na eletricidade.
O fechamento de usinas nucleares nos dois lados do Atlântico representa um duro golpe para um setor que durante anos anunciou a perspectiva de um "renascimento nuclear”, com base nos méritos do fornecimento de energia em larga escala e com baixo teor de carbono. Esse fato mostra como os governos ocidentais têm hesitado em seu apoio à tecnologia e preferiram investir no subsídio das energias renováveis, em vez de definir um preço real para as emissões de carbono, que prejudicaria mais os combustíveis poluentes como carvão e gás e, portanto, incentivaria o uso da energia nuclear.
O encerramento das atividades das usinas nucleares também mostra como as ONGs ambientalistas, muitas das quais foram criadas para fazer oposição ao uso militar e civil da energia atômica, têm influenciado a discussão sobre energia nuclear. Muitas ONGs ainda veem a energia nuclear como um vilão semelhante ao aquecimento global.
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- 13/11/2015 - Laboratório associado ao Cietec assina convênio de pesquisa e desenvolvimento com IPENProjeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Projeto inédito da Biosintesis inovará em técnicas e metodologias in vitro, em condições de Boas Práticas de Laboratórios (BPL)
Fonte: site Maxpress
O Laboratório Biosintesis e o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) fecharam acordo para o desenvolvimento de novas técnicas e metodologias para pesquisa in vitro. O trabalho conjunto será na área de segurança e eficácia de radiofármacos e biomateriais. O laboratório é associado ao Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), gestor da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/IPEN, desde 2008.
O convênio com o Centro de Biotecnologia do IPEN tem como objetivo principal criar uma metodologia inédita para estudos em materiais biológicos e medicamentos radiológicos. O tema das pesquisas biológicas in vitro tem instigado a criação de métodos alternativos que proporcionem resultados com ganhos qualitativos e éticos em relação aos estudos tradicionais. A preocupação fica evidente quando se analisa as constantes iniciativas de instituições de pesquisa científica e tecnológica, agências regulatórias e políticas públicas.
Os estudos serão desenvolvidos dentro dos princípios de boas práticas de laboratório (BPL), um sistema de qualidade adotado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para todos os países membros. As normas estabelecem requisitos ao processo organizacional e condições técnicas para estudos não-clínicos de segurança à saúde humana e ao meio ambiente. A iniciativa é importante para a competitividade brasileira, uma vez que estudos in vitro com estes requisitos de qualidade só estavam disponíveis no exterior.
Segundo Fabiana Medeiros, diretora da Biosintesis, "a exposição e a utilização de produtos seguros é uma preocupação constante para a sociedade, indústria e órgãos regulamentadores. O uso de metodologias in vitro, em ensaios biológicos validados e monitorados por sistemas de qualidade robustos, possibilita a realização de estudos de segurança e eficácia com grande rapidez, precisão e rastreabilidade dos resultados".
O documento que estabelece o convênio entre a Biosintesis e o IPEN estabelece um prazo de dois anos para o trabalho. De acordo com Fabiana, "inicialmente a tecnologia tem aplicação na radiofarmácia do IPEN e pode ser desdobrada para outros segmentos da saúde".
Para Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec, o acordo de trabalho conjunto mostra o grau de excelência do laboratório Biosintesis. "A assinatura da tratativa demonstra que a equipe de Fabiana Medeiros está apta para cooperar com um centro de referência no Brasil e na América Latina, como é o IPEN", comemora o especialista em empreendedorismo inovador. E completa: "as normas que serão utilizadas nos estudos seguirão padrões internacionais, o que colaborará para o reconhecimento global dos produtos desenvolvidos a partir delas".
Marcelo Linardi, Diretor de P&D e Ensino do IPEN, salienta a importância do convênio de Inovação Tecnológica com empresas incubadas. "O caminho da inovação tecnológica é vital para a política de continuidade dos Institutos de Pesquisas, pois dá o retorno à sociedade do investimento público em P&D, justificando todo o processo, gerando melhoria da qualidade de vida do brasileiro".
Sobre o Cietec
O Cietec, Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, inaugurado em abril de 1998, tem como missão incentivar o empreendedorismo e a inovação tecnológica, apoiando a criação, fortalecimento e a consolidação de empresas e empreendimentos inovadores de base tecnológica. Em suas unidades de negócio, São Paulo e Mogi das Cruzes, são conduzidos processos de incubação de empresas inovadoras, em diferentes níveis de maturidade. Nesses processos o Cietec oferece serviços de apoio para demandas nas áreas de gestão tecnológica, empresarial e mercadológica, além de infraestrutura física para a instalação e operação dessas empresas. O Cietec possibilita a ampliação d o índice de sobrevivência e competitividade das micro e pequenas empresas, oferecendo a excelência de sua infra-estrutura, a capacitação do seu recurso humano e a comercialização e busca por inve stimento, como o investimento-anjo, capital semente e venture capital (capital de risco).
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- 11/11/2015 - Corte de verba faz Marinha suspender projeto para defesa do pré-salFalta de dinheiro fará submarino nuclear atrasar 4 anos, diz comandante. Orçamento ficou 30% menor em 2015 e 200 trabalhadores serão cortados.
Falta de dinheiro fará submarino nuclear atrasar 4 anos, diz comandante. Orçamento ficou 30% menor em 2015 e 200 trabalhadores serão cortados.
Fonte: G1 Portal de Notícias
Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
O corte de recursos devido à crise econômica levou a Marinha a suspender o projeto para monitorar o mar territorial do país e proteger os recursos do pré-sal, informou o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira.Um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) estima que a área do pré-sal possua ao menos 176 bilhões de barris de recursos não descobertos e recuperáveis de petróleo e gás natural.
Com certeza, vai atrasar [o projeto do submarino nuclear brasileiro]. Há duas dificuldades. A primeira é financeira, temos que ter um fluxo de dinheiro constantemente. A outra é dificuldade técnica, porque estamos desenvolvendo tudo sozinho, sozinho, sozinho. Mas nós estamos avançando" almirante Eduardo Leal Ferreira, comandante da Marinha
Também foi afetado pelo corte o projeto do submarino nuclear brasileiro, cuja previsão inicial de entrada em operação, avaliada para 2025, sofrerá um atraso de três a quatro anos, segundo o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira.
"Com orçamento 30% menor do previsto neste ano, tivemos que refazer o cronograma físico e financeiro de uma série de projetos. Todos os projetos sofreram redução de ritmo em diferentes graus”, informou Leal Ferreira a jornalistas em São Paulo. "Temos que enfrentar esta realidade e dar nossa contribuição para se adaptar [à crise econômica no país]. Não podemos desistir e nos desesperar", acrescentou.
O governo federal bloqueou em maio R$ 69,9 bilhões em gastos para 2015. Pela Lei Orçamentária, a Marinha teria disponíveis R$ 3,85 bilhões para custeio e R$ 2,1 bilhões para investimentos neste ano. Com o corte, porém, de R$ 2 bilhões, restou para investimento R$ 1,3 bilhão. Sobraram quase mais R$ 2,6 bilhões para custeio.
O projeto para controlar e vigiar a a zona econômica exclusiva brasileira do Oceano Atlântico, chamado de Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz), uma área de 4,5 milhões de quilômetros quadrados, tem investimento estimado de R$ 13 bilhões e tinha previsão inicial de estar concluído em 2027.
A interrupção ocorreu no dia 29 de outubro "devido às restrições orçamentárias impostas”, quando uma carta, comunicando oficialmente a decisão, foi enviada aos três consórcios concorrentes. O documento não foi divulgado.
Segundo a Marinha, o alerta foi enviado às candidatas a contratante principal, sendo elas: Embraer Defesa & Segurança, Odebrecht Defesa e Tecnologia e Orbital Engenharia. Não há previsão de quando o programa será retomado, o que pode ocorrer "assim que as condições financeiras permitirem”.
Semelhante ao projeto que o Exército possui para vigiar as fronteiras terrestres, o Sisgaaz tem como missão garantir maior segurança marítima e a defesa no Atlântico Sul, gerando maior eficiência dos órgãos brasileiros para a fiscalização de narcotráfico e contrabando pelo mar, operações de busca e salvamento e também impedir que embarcações de outros países invadam as águas jurisdicionais brasileiras.
Em 30 de outubro, o jornal "Folha de S. Paulo” divulgou que navios de guerra dos Estados Unidos realizaram operações marítimas na costa brasileira em 2014 sem avisarem às autoridades e sem terem sido percebidas. Segundo o comandante da Marinha, o ocorrido se deve a uma diferença de entendimento sobre como o Brasil e os Estados Unidos analisam cláusulas da convenção da ONU sobre os direitos do mar. Ele minimizou suspeitas de que outras invasões podem ter ocorrido.
"Eu considero estes meus direitos, de autorizar manobras militares, em especial com emprego de armas, em nossa zona econômica exclusiva. O americano tem uma posição diferente, ele acha que a navegação ali é livre e não inclui qualquer restrição a operações militares. É a interpretação que ele tem e ele tenta forçar a ideia de que o ponto de vista dele está coerente”, afirma Leal Ferreira sobre o tema.
"Este é um assunto para ser discutido no ponto de vista diplomático e não no âmbito militar”, diz. "São pequenos pontos divergentes que não podemos transformar em grandes contendas”.
O Sisgaaz, quando introduzido plenamente, permitirá ao Brasil identificar navios invasores em toda a sua área de controle, afirma o comandante. Com a suspensão do programa, não há previsão de quando isso irá acontecer.
A construção do submarino nuclear, que também servirá como fator de dissuasão para impedir a invasão de embarcações estrangeiras e impor o poder militar brasileiro no mar, também foi atingida pelo corte de recursos.
Além do atraso em até 4 anos para a sua finalização, haverá corte de 200 funcionários civis em São Paulo e Iperó entre o fim de 2015 e início de 2016. Hoje são 3 mil pessoas trabalhando no desenvolvimento - 1.200 são profissionais qualificados, como cientistas, que não podem ser desvinculados do projeto por possuírem informações estratégicas.
O projeto do submarino nuclear brasilerio teve início em 1979 e já consumiu mais de R$ 1 bilhão de recursos. "Fomos afetados pelo corte orçamentário e tivemos que reduzir o ritmo, mas não paralisou. Em 2015, o esperado era de R$ 320 mil para custeio, e recebemos R$ 250 mil. Esta redução significativa deve se manter em 2016", afirmou Leal Ferreira.
A Marinha também vem emperrando em adversidades para desenvolver a propulsão nuclear, pois os países que detêm o conhecimento – o seleto grupo com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, Inglaterra e França) – não desejam repassá-los ao Brasil.
"Com certeza, vai atrasar. Há duas dificuldades. A primeira é financeira, temos que ter um fluxo de dinheiro constantemente. Porque fazemos contratos para daqui a três, quatro anos, e repactuar um contrato destes sempre fica muito difícil, os próprios fornecedores ficam desconfiados. A outra é dificuldade técnica, porque estamos desenvolvendo tudo sozinho, sozinho, sozinho. Mas nós estamos avançando", diz Leal Ferreira.
"Quando eles (outros países) tomam conhecimento que nós vamos usar aquele determinado equipamento no programa nuclear, eles proíbem a venda. Tudo nós temos que descobrir por nós mesmos. Apesar das dificuldades técnicas, nós estamos sempre avançando, até agora não teve nada intransponível. Mas com a redução dos recursos, tivemos que reduzir mais", salientou o comandante da Marinha.
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- 06/11/2015 - Começam as trocas no MCTIFonte: Agência Gestão MCT&I
A dança das cadeiras no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) começou. Levou cerca de 20 dias para que o novo titular da pasta, Celso Pansera, iniciasse o processo de mudanças. Em 27 de outubro, o dirigente nomeou Gil Rosa de Carvalho para exercer o cargo de assessor especial. No Diário Oficial União (DOU) desta sexta-feira (6) foram anunciadas novas escolhas e dispensas.
Uma delas ocorreu na Subsecretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa (SCUP/MCTI). Comandado pelo físico Adalberto Fazzio desde maio de 2015, o departamento tem como objetivo propor, gerenciar e acompanhar a implementação de programas e projetos dos institutos vinculados ao ministério. À seção também é incumbida a missão de analisar e fiscalizar os contratos de gestão assinados entre o governo e as organizações sociais. Um novo nome deve ser anunciado nos próximos dias.
Também está no DOU a nomeação de Luciana de Camargo da Silva. Ela exercerá a função de Acompanhamento e Avaliação das Atividades Finalísticas da Secretaria-Executiva (Sexec) do MCTI.
Ambas seções estão ligadas à Sexec, que também terá o comando trocado. Emília Ribeiro que está no cargo há quase sete meses sairá. Nos bastidores, comenta-se que um nome para a função já foi definido pelo ministro Celso Pansera. A tendência é que ele anuncie as mudanças assim que voltar da viagem ao Catar.
(Agência Gestão CT&I)
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- 06/11/2015 - Grupo Fleury anuncia vencedores do prêmio de inovação em saúdeDois pesquisadores apoiados pela FAPESP tiveram seus projetos de pesquisas premiados nas categorias mestrado e doutorado e jovem pesquisador
Dois pesquisadores apoiados pela FAPESP tiveram seus projetos de pesquisas premiados nas categorias mestrado e doutorado e jovem pesquisador
Fonte: Agência FAPESP
Dois pesquisadores apoiados pela FAPESP estão entre os contemplados na primeira edição do Prêmio de Inovação do Grupo Fleury (PIF).
Na categoria mestrado e doutorado, Thatiana Evilen da Silva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foi premiada por sua pesquisa "Mutações no gene DHX37 identificadas por sequenciamento exômico em larga escala são causa da síndrome de regressão testicular embrionária (SRTE) em quatro famílias com DDS 46,XY”.
Na mesma categoria também foi vencedora a pesquisa sobre "Inovação no diagnóstico da hanseníase: potencial método não invasivo associado à espectrometria de massas de alta resolução”, de Estela de Oliveira Lima, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Na categoria jovem pesquisador, Mariana de Oliveira Diniz, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB/USP), foi a vencedora com o trabalho "Nova abordagem imunoterapêutica contra tumores induzidos por HPV”.
Também foi contemplado Andre Luiz Vettore, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o trabalho "Acurácia de microRNAs como marcadores de detecção de metástases em linfonodos cervicais de pacientes com carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço”.
Na categoria graduação, foram reconhecidos os trabalhos "Efeitos inflamatórios oriundos da poluição atmosférica urbana utilizando camundongos deficientes no gene de reparo XPC”, da aluna Giovanna Mamesso di Costanzo, e o trabalho "Dissulfeto-isomerase proteica é superexpressa na resposta vascular à lesão e tem ação antirremodelamento constritivo”, do aluno Haniel Alves Araújo, ambos da Faculdade de Medicina da USP.
O prêmio principal foi para o trabalho de Allan Kardec Nogueira de Alencar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre o "Desenvolvimento de novos agonistas de receptores de adenosina A2A para a reversão do remodelamento cardíaco e vascular em ratos com hipertensão arterial pulmonar”.
Ao todo, 69 trabalhos foram inscritos na primeira edição do PIF, sendo 18 selecionados para apresentação oral e sete premiados.
"Tivemos desde pesquisas básicas voltadas para a área de métodos moleculares até tratamentos terapêuticos e inovações tecnológicas para a criação de ferramentas que facilitam o dia a dia do corpo médico. Isso mostra a riqueza e a diversidade da produção acadêmica e científica no país”, afirmou Jeane Tsutsui, diretora executiva Médica, Técnica e de P&D da empresa.
Os pesquisadores que tiveram seus projetos reconhecidos terão oportunidade de passar 15 dias na área de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Fleury. A proposta é promover a interação e vivenciar os desafios da equipe com os futuros cientistas do país, bem como estreitar o relacionamento da empresa com as universidades e vice-versa. "Nesta imersão, os jovens cientistas poderão ver como a pesquisa acadêmica pode ser aplicada em uma empresa, assim como terão a chance de trazer insights importantes para a equipe de P&D”, explica Tsutsui.
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- 05/11/2015 - O maniqueísmo nuclearArtigo de Silvia Maria Velasques de Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN), para o Jornal da Ciência
Artigo de Silvia Maria Velasques de Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN), para o Jornal da Ciência
Fonte: Jornal da CiênciaEm "Diários da presidência 1995-1996”, memórias lançadas recentemente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), há, na página 529, o registro do dia 5 de abril de 1996: "fui ao IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), aqui na USP (Universidade de São Paulo). Encontrei o Marcelo Damy (físico e professor paulista, pioneiro da energia nuclear no Brasil), que eu não via fazia quarenta anos. No discurso rápido que fiz, mencionei que eu tinha sido muito contra o reator atômico da USP, nós achávamos que ele iria explodir (…). Era uma luta entre os físicos e quem teve razão foi o Marcelo Damy. Visitei tudo o que está feito lá, o reator experimental, e vi também que recuperamos as verbas em 94, 95 e, sobretudo, em 96”. E conclui FHC: "Pediram um síncrotron (acelerador de partículas com aplicação em pesquisas físicas, biológicas e nanotecnologia) e eu sou favorável também. Vamos ver se a gente viabiliza esse sincrotron, são só 5 milhões de dólares (o Laboratório Nacional da Luz Síncrotron foi inaugurado em 1997, em Campinas)”.
Essa "luta ente os físicos” perdura, e envolve também os engenheiros. Se um presidente da República e professor universitário tem medo de um reator de pesquisas porque acha que "ele pode explodir”, qualquer brasileiro pode sentir o mesmo. Falo sentir e não pensar porque medo não é racionalizado. Minha hipótese sobre a divulgação da energia nuclear no Brasil é que não há a necessária isenção: apoiadores, operadores de usinas nucleares para geração de eletricidade e usuários das demais aplicações (Medicina, Indústria e Pesquisa) propagam os benefícios sem explicar os riscos associados às respectivas tecnologias enquanto que os ativistas antinucleares, ao contrário, divulgam os riscos de forma isolada e, na maioria das vezes, sem compará-los com problemas afetos às tecnologias alternativas.
Se físicos e engenheiros de um lado, e ativistas e políticos de outro, confundirem a opinião pública sobre as diferenças básicas das tecnologias nucleares, omitindo o que não lhes convém, diversas pesquisas para melhorar a saúde dos brasileiros, especialmente em Radiobiologia, Radiofarmácia e Medicina Nuclear, poderão ser afetadas, prejudicando toda a sociedade.
Em 2015, diversos eventos paralelos, científicos e/ou políticos, a maioria financiados pelo Estado, aconteceram com grupos homogêneos que não contaram com a admissão do contraditório. Nos dias 27 e 28 de outubro de 2015, realizou-se no Auditório INTERLEGIS, do Senado Federal, o Seminário Internacional "Usinas Nucleares-Lições da Experiência Mundial”, promovido pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), coordenada pelo Senador Cristovam Buarque.
Os discursos foram dirigidos a reforçar o Projeto de Lei do Senado (PLS) 405 de 2011, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), e atualmente na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle. A ementa propõe suspender, pelo prazo de trinta anos, em todo o território nacional, a construção de novas usinas termonucleares com o argumento da probabilidade de ocorrência de acidentes nucleares.
A mesa "As consequências sociais e sanitárias dos acidentes nucleares” começou com Naoto Kan (ex-primeiro ministro do Japão em 2011 e responsável pelo gerenciamento da crise do acidente nuclear de Fukushima), em depoimento por videoconferência. Ele aconselhou os brasileiros a desistirem dos reatores nucleares. Vladimir Shevtsov (Bielorrússia) e Alfredo Pena-Veja (França) abordaram suas pesquisas, respectivamente sobre Chernobyl na Ucrânia e Fukushima no Japão sem comentar dados de publicações internacionais como o Comitê Científico das Nações Unidas para Efeitos das Radiações Atômicas (www.unscear.org), órgão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), formado por cientistas de vários países. Emiko Okuno, física da USP, ao relatar o acidente com Césio-137 em Goiânia em 1987, citou dados do relatório oficial publicado pela Agência Internacional de Energia Atômica (www.iaea.org).
Acompanhando pela internet, enviei por e-mail a seguinte pergunta aVladimir Shevtsov: "por que não comentou os dados sobre exposições do público publicados pelo United Nations Scientific Committee on Effects of Atomic Radiation (UNSCEAR)? Não os considera confiáveis ou os desconhece?”O palestrante não mencionou o UNSCEAR, talvez de fato não o conheça, e criticou a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) ao comentar que as estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) são controladas pela IAEA, a qual defende os interesses dos países do Tratado de Não Proliferação (de Armas Atômicas).
Minha segunda pergunta, formulada ao representante da França, foi: "por que não comentou na sua palestra o apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) em face das convenções de segurança entre os países membros? Todo o apoio logístico, técnico e financeiro nos dois acidentes nucleares não foram sequer citados. Por que não contextualizou seus projetos de pesquisas em relação a centenas de outros também publicados por vários países? Tem restrições aos outros artigos ou abordagens? Caso sim, quais?”.
Quem respondeu foi a física nuclear, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), na França, Monique Sené, que justificou que, embora as publicações da IAEA devam ser lidas, não as mencionou porque abordara apenas os problemas da França. O pesquisador Alfredo Pena-Veja, a quem a pergunta fora dirigida, respondeu ironicamente que não compara suas pesquisas com outras publicações porque "o pessoal da área nuclear só tem certezas e seus estudos não têm incertezas".
Na mesa "Da mineração de urânio às usinas nucleares e aos rejeitos radioativos, perspectivas e alternativas”, Eduardo Souza Motta, membro da Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear (AFEN), reclamou que problemas como a mineração de urânio e a cadeia de enriquecimento do combustível nuclear não tinham sido abordados. Reivindicou, também, a discussão sobre reatores dedicados para produção de radioisótopos usados em medicina nuclear. Segundo ele, estes reatores também devem ser justificados, uma vez que, ao usar urânio enriquecido, geram rejeitos radioativos e podem provocar acidentes. É possível que, aumentando o leque de problemas, o fiscal nuclear esperasse valorizar a atuação da AFEN.
Francisco Whitaker, membro da Comissão Justiça e Paz, coordenador da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares e um dos organizadores do seminário, respondeu que a proposta fugia ao escopo do evento porque o título era "Usinas Nucleares”, mas poderia acontecer em outra oportunidade. Entretanto, alguns minutos depois, o próprio Whitaker, mencionou que "na Bolívia há um projeto de reator para produção de radioisótopos e isto é um verdadeiro Cavalo de Tróia, pois por onde passa boi passa boiada e logo irão querer colocar uma usina nuclear na Bolívia”.De fato, no dia seguinte, a Globo.com publicou o anúncio do presidente boliviano sobre a construção até 2020 de complexo nuclear com cíclotron, irradiador gama e reator nuclear de pesquisas com tecnologia da estatal russa ROSATOM e aporte argentino, totalizando 300 milhões de dólares.
Radiofármacos são fabricados com radioisótopos que marcam quimicamente uma molécula-vetor (fármaco) para atingir um órgão ou tecido em estudo ou tratamento. Os radioisótopos são produzidos em reatores nucleares dedicados (de baixa potência) ou em cíclotrons (aparelhos que aceleram íons em direção a um alvo definido para produção do radionuclídeo de interesse).
Fármacos marcados com Tecnécio-99m, a partir do decaimento radioativo do Molebdênio-99m (matéria-prima produzida em reator), são usados em exames cardiológicos e neurológicos, entre outros. Para tratamento de câncer, moléculas são marcadas com outros radioisótopos também produzidos em reatores dedicados: Samário-153 (metástases ósseas), Lutecio-177 (tumores neuroendócrinos), Ytrio-90 (linfomas e tumores hepáticos) ou Iodo-131 (hipertireoidismo e carcinoma diferenciado da tireóide).
Para suprir a demanda mundial de Molebdênio-99m, há apenas sete reatores em operação (Canadá, Bélgica, África do Sul, Holanda, França, Argentina e Austrália), seis com mais de 40 anos em atividade e que serão brevemente desativados, três deles entre 2015 e 2018. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) priorizou o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), gerenciado pela CNEN, devendo ser construído em um terreno cedido pela Marinha do Brasil em Iperó, interior do estado de São Paulo. Foram definidas três funções principais: (1) produção de radioisótopos, (2) produção do combustível nuclear a partir da irradiação de materiais para atender ao programa nuclear brasileiro e (3) fornecimento de feixes de nêutrons para pesquisa científica básica e aplicada.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 recepcionou o regime de monopólio, exercido pela CNEN. Por meio da Emenda Constitucional nº 4, de 8 de fevereiro de 2006, o monopólio foi parcialmente quebrado para radiofármacos de meia-vida física inferior a 120 minutos. De quatro cíclotrons operados pela CNEN em 2010, o país saltou para 14 cíclotrons, adicionando empresas privadas ou centros universitários que produzem Fluor-18 usado em tomografias por emissão de pósitron único (PET). Mesmo assim, o país está atrasado em dezenas de anos em relação ao primeiro mundo em pesquisas e uso médico dos radiofármacos. Não há recursos suficientes para promover a energia nuclear e, simultaneamente, fiscalizar seus operadores. A criação da Agência Nacional de Segurança Nuclear permitiria disciplinar esse conflito de interesses. Contudo, o respectivo Projeto de Lei está parado na Casa Civil da Presidência da República desde 2012.
Em 1996, FHC decidiu que o projeto do sincrotron, orçado à época em cinco milhões de dólares, era importante e deveria prosseguir. Foi inaugurado em Campinas um ano depois. O RMB, orçado em 2013 em quinhentos milhões de dólares, já obteve Licença Prévia do IBAMA e a Aprovação de Local da CNEN. Está em andamento o detalhamento do projeto de engenharia realizado pelo INVAP (empresa argentina). A operação do RMB, inicialmente prevista para 2016, foi adiada para 2021 e, segundo a CNEN, "depende da regularidade de investimentos do Governo Federal”.
A segurança dos projetos nucleares estratégicos começa pela solução de conflitos de interesse dentro do Governo Federal e de seus agentes. Por outro lado, tanto os cientistas nacionais quanto os visitantes internacionais devem divulgar suas pesquisas sobre os efeitos biológicos das radiações ionizantes sem valorizar isoladamente aspectos favoráveis ou desfavoráveis. Sem independência intelectual e ética, ativistas, políticos, fiscais nucleares, pesquisadores ou operadores, não superarão o maniqueísmo nuclear. Grupos com interesses antagônicos, alguns até ambivalentes (baseados no equívoco de que "os fins justificam os meios”), insistem em polarizar a opinião pública em iniciativas isoladas que não contribuirão para o diálogo necessário para se estabelecer uma legislação coerente e compatível com os interesses da sociedade brasileira.
"O juízo bom nãoprovém daqueles aos quais se fez o bem. Foram osbonsmesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores em posição e pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposição a tudo que era baixo, de pensamento baixo, vulgar e plebeu” (Nietzsche, Genealogia da Moral, primeira dissertação, § 2).
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- 05/11/2015 - LNLS apresenta demandas a empresas para o Projeto Sirius na sexta-feiraEncontro acontece na sede do Cnpem, em Campinas (SP). Para diretor do laboratório, Antonio José Roque, modelo do edital é benéfico para todos os envolvidos na construção da fonte de luz síncrotron
Encontro acontece na sede do Cnpem, em Campinas (SP). Para diretor do laboratório, Antonio José Roque, modelo do edital é benéfico para todos os envolvidos na construção da fonte de luz síncrotron
Fonte: Jornal da CiênciaNesta sexta-feira (6), o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (Cnpem/MCTI) será palco da apresentação dos 13 desafios do segundo edital Fapesp/Finep para a construção do Projeto Sirius, a futura nova fonte de luz síncrotron brasileira. As inscrições podem ser feitas neste link.
Estão aptas a participar pequenas, médias e grandes empresas do estado de São Paulo interessadas em desenvolver tecnologias para suprir as necessidades do equipamento, que será instalado na sede do Cnpem, em Campinas (SP). A chamada promovida em conjunto pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) disponibiliza R$ 20 milhões, divididos igualmente entre as entidades.
O encontro, chamado Mesa Redonda Parceria Sirius, servirá ainda para que as companhias conheçam mais sobre o Sirius e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/MCTI), que cuidará da empreitada. Além disso, serão apresentados dados referentes às ações do primeiro edital da fonte de luz sincrotron, que selecionou oito empresas para cumprir outros 13 desafios apresentados à iniciativa privada.
Para o diretor do LNLS, Antonio José Roque da Silva, esta é uma oportunidade importante para que os atores envolvidos no desenvolvimento da estrutura de luz sincrotron possam interagir e conhecer diferentes aspectos acerca do anel acelerador. A programação vai das 8h30 às 16h30.
"É a chance que as empresas têm de conhecer, saber melhor quais são os desafios propostos para o Sirius. E elas também vão poder conversas com nossos técnicos para conhecer os detalhes e especificidades desses desafios”, afirmou.
Os desafios são etapas da construção da estrutura da fonte de luz sincrotron a serem completadas. São eles: trem de monitoramento de túnel; robô comandado por laser tracker; passarela sobre o anel; sensor hidrostático de nível e inclinação; banhos térmicos; controlador e driver para motor; sistema de banking modular para câmara de vácuo; câmaras de vácuo para elementos ópticos; estágios mecânicos de precisão; bases mecânicas ultra estáveis; cabanas experimentais; impressora 3D – manufatura aditiva; e mecânica do núcleo de ondulador universal.
Modelo positivo
Na avaliação de Antonio José Roque da Silva, o formato de parceria do edital é benéfico para todas as partes envolvidas no projeto. O diretor do LNLS acredita que a complementação orçamental dá fôlego para as empresas desenvolverem tecnologias específicas para suprir as necessidades da fonte de luz sincrotron.
"O Sirius é um projeto estruturante para o País. Pela dimensão dele, tem capacidade de alavancar o setor de inovação com base em tecnologia. E o modelo do edital é um sucesso por acoplar projetos científicos e tecnológicos com um programa estruturado na busca de empresas parceiras. A taxa de aprovação desse edital é significativamente maior que outras chamadas”, explicou.
Detalhes do edital
Os recursos destinados pela chamada pública são concedidos de forma separada do orçamento previsto para o Projeto Sirius. Ao menos 40% dos R$ 20 milhões disponibilizados serão destinados a empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões. Cada companhia poderá solicitar até R$ 1,5 milhão, sem expectativa de reembolso pela agência financiadora, para executar o projeto em até 24 meses. As proponentes deverão indicar um pesquisador responsável ou coordenador técnico pelo projeto.
Os interessados terão até o dia 27 de novembro para submeterem propostas ao edital. O resultado final da seleção deve ser divulgado a partir de 1º de maio de 2016.
(MCTI)
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- 04/11/2015 - Agência de Segurança Nuclear e suas limitaçõesArtigo de Sidney Luiz Rabello, engenheiro de segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear*, para o Jornal da Ciência
Artigo de Sidney Luiz Rabello, engenheiro de segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear*, para o Jornal da Ciência
Fonte: Jornal da CiênciaNo Brasil, ainda não foi criada a Agência de Segurança Nuclear (ASN), requerida pela Convenção de Segurança Nuclear, acordo internacional que se tornou lei no Brasil em 1999. Quem executa o papel de Agência de Segurança no Brasil é a Comissão Nacional de Energia Nacional (CNEN), a qual acumula as atribuições de pesquisa, desenvolvimento tecnológico, fabricação, comercialização de radioisótopos e prestação de serviços, atribuições que podem comprometer sua atuação na área de segurança nuclear. Algo similar ao modelo francês de um passado recente, sempre colocado como exemplo a ser seguido pelo Brasil. O fato de a CNEN ter em seus institutos instalações nucleares e radioativas e ainda estar subordinado à CNEN as Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) implica que a CNEN fiscalize a si própria. A autofiscalização é um modelo bastante conhecido e não é a melhor forma de garantir a segurança no uso da energia nuclear, popularmente é a raposa tomando conta do galinheiro.
Não é por menos que a França fez reformas importantes na área nuclear e atualmente garante, pelo menos no papel, a independência de atuação de sua Agência de Segurança Nuclear. A França seguiu o que é preconizado pela Convenção de Segurança Nuclear. O Brasil ainda não, apesar da Agência de Segurança Nuclear Brasileira ser uma exigência legal desde 1999 e um compromisso internacional não cumprido até hoje.
A França constituiu a Agência de Segurança Nuclear em 2006 com independência administrativa, dirigida por cinco membros, designados pelo Presidente da República e pelos Presidentes das duas Casas do Congresso.
A ASN francesa é responsável pela segurança das usinas nucleares, de outras atividades industriais, das atividades de pesquisa e da medicina, do transporte de material radioativo, do rejeito e do descomissionamento. Inclui-se dentre suas responsabilidades a obrigatoriedade de que suas atividades sejam transparentes ao público e ao Congresso.
No Japão, pudemos conhecer o resultado da atuação de sua Agência de Segurança Nuclear que deveria ser também independente. O Japão tem usinas nucleares com um perfil similar ao francês, no que diz respeito ao número de usinas de projeto de segurança nuclear arcaico da década de 1970, como é o caso das unidades de Fukushima. Mesmo assim, seria esperado que, apesar do tsunami, nenhum material radioativo ou uma quantidade bem limitada fosse liberado para o meio ambiente em resultado da fusão do núcleo do reator, caso tivessem sido realizadas reformas em função da experiência adquirida pelo acidente de Three Mile Island de 1979. O que ocorreu foi exatamente ao contrário: grandes quantidades de material radioativo foram liberadas, além da explosão pirotécnica de hidrogênio.
Na realidade, as proporções das consequências do acidente de Fukushima no Japão não foram decorrentes do tsunami que a imprensa divulgou fartamente como causa. O principal responsável pela liberação de material radioativo para o meio ambiente foi que a Agência de Segurança Nuclear japonesa não desempenhou seu papel de garantir a proteção do meio ambiente e a segurança do povo japonês.
O relatório da Comissão de Investigação do Congresso Japonês, disponível na internet, concluiu que houve um conluio entre a empresa operadora, proprietária das usinas de Fukushima, e a Agência de Segurança Nuclear. Isto é, houve uma combinação entre as duas empresas (a operadora e a agência) para não se seguir a regulamentação de segurança nuclear. Esta foi a principal conclusão sobre o acidente de Fukushima. Se o conluio não ocorresse, certamente a contaminação do meio ambiente seria inexistente ou bastante limitada e a população não estaria sofrendo até hoje, desalojada de sua casa e incapacitada de ganhar sua vida em atividades nas regiões próximas das usinas de Fukushima.
O acidente de Fukushima evidencia fortemente que não basta a criação da Agência de Segurança Nuclear e uma lei que garanta a independência de atuação e a transparência do processo de licenciamento. É necessário que a população fiscalize sistematicamente, através de Instituições Civis Independentes, que não tenham compromissos com os lobbies nucleares, se a Agência está desempenhando adequadamente suas funções de segurança e se a transparência do licenciamento é completa. O papel de fiscalização da atuação da Agência também deve ser exercido pelo Congresso Nacional, que através de uma comissão especializada receba e analise anualmente relatórios da Agência e submeta seus dirigentes a questionamentos. Por outro lado, o Governo Federal também deve criar mecanismos para fiscalizar se os objetivos de segurança nuclear da ASN estão sendo atingidos, livrando a instituição de corporativismos ou da influência do lobby industrial-burocrático-governamental.
Em geral, na sociedade existem dois grupos que pensam a energia nuclear. Um grupo defende as aplicações da energia nuclear fanaticamente como se a tecnologia de fronteira não oferecesse qualquer risco, apenas um progresso tecnológico para o país e um trunfo estratégico no jogo geopolítico. Este segmento em geral despreza, ignora ou acha irrelevantes as questões de segurança e ambientais e julga a sua consideração um mal necessário. Deste grupo em geral fazem parte o "stablishment” nuclear, segmentos associados como funcionários das empresas nucleares, setores industriais afins e universidades ligadas às empresas nucleares, através de contratação de serviços. Em geral, este grupo constitui um forte lobby junto ao governo, dispondo de meios financeiros diretos e indiretos para conquistar corações e mentes, desde prefeitos, dirigentes de escolas dos três graus, a mídia em geral, segmentos importantes do executivo, do legislativo e judiciário. Uma das fortes bandeiras deste grupo é "quem é contra as usinas nucleares não é nacionalista”, vai contra os interesses nacionais. Só eles são nacionalistas, mesmo que o projeto das usinas não seja feito no Brasil, como Angra 1, 2 e 3. Também utiliza da complexidade tecnológica de uma usina nuclear para desqualificar qualquer crítica de leigos, como se a população que vive no entorno das usinas precisasse ser composta de engenheiros nucleares para saber que um acidente nuclear não faz bem para a saúde. Muitas vezes a defesa cega das usinas nucleares aparenta ser na verdade a defesa da corporação e dos dirigentes das empresas, nem sempre algo sadio para a sociedade, principalmente quando desconsidera a segurança das usinas.
O segundo grupo é constituído basicamente pelos ecologistas, composto de uma gama grande de posicionamentos, mas o preponderante é de ser contra as usinas nucleares. Não sem razão. Os acidentes de Three Mile Island, Chernobyl e de Fukushima, principalmente estes dois últimos, dão fortes argumentos a este grupo. Também questiona com propriedade: Se a história da humanidade demonstra que não há instituição ou edificação que sobreviveu por 5 a 10 mil anos, como se pode garantir um armazenamento seguro do rejeito radioativo por dezenas de milhares de anos? Este grupo já teve muitas vitórias em prol do meio ambiente e terá muitas vitórias pela frente. Hoje no Brasil temos secretarias de meio ambiente em prefeituras e governos estaduais e um Ministério de Meio Ambiente, além da criação da consciência na população cada vez maior a favor da preservação do meio ambiente, resultado de lutas do movimento ecologista. Veja bem, a bandeira da preservação do meio ambiente não é apenas uma bandeira de preservação das florestas, da atmosfera, dos rios e oceanos, é uma bandeira que defende as condições para que todos os seres humanos venham a viver bem. Não se pode esquecer que a bandeira dos ecologistas é uma bandeira nacionalista, que não é um privilégio dos "escolhidos” do primeiro grupo. Inclusive o primeiro grupo propaga que os ecologistas são inimigos da Pátria, a serviço de interesses estrangeiros para impedir nosso desenvolvimento, como nas melhores teorias da conspiração. Isto tudo para desmoralizar o movimento ecologista e permitir o uso indiscriminado da energia nuclear e do meio ambiente.
Neste ambiente dos "a favor” e dos "contra”, as usinas são construídas e sempre nos termos dos "a favor”.
Infelizmente não existe um terceiro grupo, que poderia ser constituído (1) daqueles que são a favor das usinas nucleares, condicionado a que sejam projetadas e construídas de forma segura e respeitando as opiniões e os temores dos leigos; e (2) daqueles que são contra as usinas, mas enquanto não se consegue ter condições políticas de impedir novas usinas e fechar as que estão em operação, exigem transparência e que as usinas sejam seguras.
Nos dias 27 e 28 de outubro foi realizado o Seminário "Usinas Nucleares – Lições da Experiência Mundial”, patrocinado pelo senador Cristóvão Buarque, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado Federal com apoio do arquiteto Francisco Whitaker na coordenação do evento. Participaram do seminário especialistas brasileiros, franceses, alemães, japoneses e americanos. A segurança das usinas nucleares brasileiras e a criação da Agência de Segurança Nuclear Brasileira foram destacadas pelos brasileiros, reabrindo a discussão muito necessária do anteprojeto de lei da Agência preparado a portas fechadas pelo Governo Federal.
É importante que a comunidade científica, ecologistas, as populações que vivem no entorno das usinas de Angra e das instalações nucleares do ciclo do combustível, profissionais de segurança nuclear e a sociedade brasileira como um todo participe do debate e da elaboração de um projeto de lei que contemple a independência da Agência e impeça a sua captura pelo lobby nuclear e pela operadora das usinas nucleares, tal como ocorreu no Japão pré-Fukushima.
* As opiniões do autor não são necessariamente refletem as posições da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
** A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.
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- 26/10/2015 - EBE busca parceiros para montar Angra 3Fonte: Diário de Notícias
A Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) está em busca de novos parceiros para tocar o contrato de montagem eletromecânica da Usina Nuclear Angra 3. A lista inclui empresas chinesas, americanas, russas e empreiteiras brasileiras.A obra hoje está a cargo do consórcio Angramon, formado pela própria EBE e outros seis grupos: UTC, Odebrecht, Camargo Corrêa, Techint, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apurou que o Angramon já comunicou a desistência do contrato à Eletronuclear.
O presidente da EBE, Paulo Massa, não confirma que um pedido oficial de rescisão tenha sido enviado à estatal na semana passada. Ele admite, entretanto, que pretende manter o contrato mesmo que suas sócias desistam do negócio e que já iniciou conversas com investidores.
A meta da EBE é ter uma proposta alternativa na manga em um prazo de 20 a 30 dias. O temor é que a estatal decida relicitar o contrato. "Se zerar tudo e relicitar, vai jogar a obra para 2023", disse.
A licitação do contrato de montagem eletromecânica foi iniciada em 2009, mas só saiu do papel em 2013. As obras começaram em setembro de 2014. Serão investidos R$ 2,9 bilhões, segundo o site da Eletronuclear.
A obra eletromecânica de Angra 3 representa cerca de 30% da carteira do grupo MPE, em que se insere a EBE. Com o setor de óleo e gás e infraestrutura parado, o contrato ganha importância para a EBE.
Em setembro, a Eletronuclear suspendeu por 60 dias o contrato com o Angramon para Angra 3, depois que Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Techint pediram afastamento da obra. Neste mês, a UTC saiu.
A Eletronuclear busca uma solução para financiar a obra de Angra 3. A empresa informou que vai recorrer da proposta feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o reajuste das tarifas de Angra 1 e 2 a partir de 2016, que ficou abaixo dos 28,3% pedidos pela empresa.
Os recursos seriam destinados ao pagamento da contrapartida a um empréstimo de R$ 6,1 bilhões com o BNDES, aguardado desde 2010 para financiar Angra 3. A Eletronuclear também negocia aditivo com a Caixa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.