Publicação traz conclusões sobre propriedades da atmosfera na Amazônia. José Oscar Vega Bustillos, do CQMA, diz que ainda há muito a ser descoberto na região.
O físico José Oscar Vega Bustillos, do Centro de
Química e Meio Ambiente (CQMA) do IPEN, é um dos coautores do trabalho publicado na revista Nature Communications (DOI: 10.1038/ncomms15541), em 23 de maio, que
reporta resultados do "Experimento GoAmazon 2014/2015”, sobre as propriedades
da atmosfera no entorno da cidade de Manaus, Amazonas. Nesse estudo, cientistas
brasileiros, americanos e europeus chegaram à conclusão de que as emissões de
isopreno na floresta amazônica são muito maiores do que apontavam resultados
anteriores.
O objetivo do Experimento era
mostrar como as emissões urbanas de Manaus interagem com as emissões da
floresta. Para isso, realizaram medidas detalhadas em solo e no perfil vertical
da atmosfera, utilizando aviões até 15 quilômetros de altura. Após extensas
medidas com o avião de pesquisas Gulfstream G1, do Departamento de Energia dos
Estados Unidos, os pesquisadores concluíram que as emissões de isopreno são
aproximadamente três vezes maiores do que os valores obtidos através de medidas
por satélites.
A importância dessa descoberta
está no fato de que o isopreno é um dos principais gases precursores da
formação de ozônio, o que afeta a capacidade oxidativa da atmosfera, isto é, a
qualidade do ar em uma determinada região. "Foram realizadas várias campanhas
científicas na Amazônia para medir a concentração do isopreno liberado pela
floresta, desde o solo, onde as folhas caídas das árvores ainda emitem, até o
topo da floresta. Quando essas medidas foram comparadas com dados de
concentração de isopreno obtidos por satélites, a surpresa veio à tona”,
afirmou Oscar.
Segundo ele, os resultados acarretam
um novo ajuste ao cálculo realizado pelos modelos matemáticos empregados para
estimar as emissões do isopreno terrestre. "A maioria desses modelos matemáticos
utiliza dados de satélites. Portanto, os modelos têm que ser refeitos com os
novos dados medidos na floresta, assim teremos uma estimativa mais confiável da
liberação deste gás. A estimativa da concentração de isopreno terrestre é de
suma importância no estudo da química atmosférica, especificamente no estudo da
capacidade oxidativa da atmosfera”, acrescentou.
Os dados foram analisados por
diversos modelos atmosféricos e de uso do solo, entre eles o "Model of
Emissions of Gases and Aerosols from Nature (MEGAN)”, que auxiliou na
interpretação entre os fluxos medidos e o que se espera da fisiologia das
plantas e fatores meteorológicos. Foram utilizados também os modelos "Community
Land Model”, WRF-Chem, e o MEGAN, de medidas do sensor MODIS e do "ASTER Global
Digital Elevation Model (ASTER GDEM)” para a determinação da elevação do
terreno com resolução de 30 metros.
Para Oscar, experimentos como o
GOAmazon são muito importantes na compreensão dos diferentes processos da
bioesfera-atmosfera desconhecidos pela ciência "numa região única como a
amazônica”, que possui a maior floresta do planeta. "Por exemplo, na área de
minha pesquisa, que é a físico-química da atmosfera terrestre, foi descoberta a
participação dos compostos orgânicos voláteis biogênicos como os terpenos na
formação dos Aerossóis Orgânicos Secundários. Esses COVBs participam na
formação de nucleação de nuvens”.
É que os COVBs são gerados pela
vegetação amazônica em função da temperatura, da irradiação solar e de outros
fatores físicos ainda em estudo. "Isso significa que a vegetação amazônica
participa da formação das nuvens de chuva que precipitam localmente e que
também são transportadas pela convecção dos ventos para a região sul do
continente Sul americano, formando um verdadeiro Oceano Verde Amazônico. Este
fenômeno afeta diretamente e diariamente as nossas vidas no sul do continente,
com épocas secas e inundações inesperadas como a que atualmente estamos
experimentando no estado de São Paulo”, salienta Oscar.
O pesquisador ressalta ainda a
importância das parcerias interinstitucionais nas pesquisas sobre a região
amazônica, que compreende outros países do continente sul-americano. "A
participação nacional e internacional é importantíssima uma vez que vários
outros países latino-americanos possuem terras amazônicas. A cooperação de
pesquisadores de outros continentes também é necessária para o entendimento dos
complexos processos da atmosfera amazônica, que afetam todo o planeta Terra.
Várias universidades do mundo e até agências como a NASA estão nessa empreitada”.
Além do projeto GOAmazon, Oscar participa
do projeto da "Amazon Tall Tower Ovservatory – ATTO”, que envolve uma torre de
325 metros de altura no meio da selva amazônica, com participação de
instituições nacionais e internacionais, principalmente o Instituto Max Planck,
da Alemanha. Para ele, um dos mais importantes programas científicos na
Amazônia é o LBA - Experimento de Larga
Escala na Biosfera-Atmosfera na Amazônia. "Foi o que alavancou a maioria de
outros projetos na região”.
O pesquisador faz questão de
destacar a participação do IPEN, especialmente do CQMA, no sucesso do GOAmazon,
gerando várias dissertações e teses acadêmicas. "Agradeço a colaboração dos
diretores do IPEN/CNEN-SP, pesquisadores, alunos e especialmente aos técnicos
que construíram equipamentos utilizados no meio da floresta tropical amazônica,
cujos desafios são de pleno conhecimento da comunidade científica. Gostaria de
convidar outros pesquisadores do IPEN para elucidar vários fenômenos ainda
desconhecidos na ciência. A floresta Amazônica é enorme, há espaço para muita
pesquisa e certamente, há muito ainda para ser descoberto”.
Além de Oscar, assinam o artigo
mais 21 autores, entre eles Dasa Gu e Alex Guenther, da Universidade da
Califórnia em Irvine, Scot Martin, de Harvard, Rodrigo Souza da Universidade do
Estado do Amazonas (UEA), e Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP. O
artigo está disponível online em acesso livre no link da revista Nature
Communications: https://www.nature.com/articles/ncomms15541
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Ana Paula Freire, MTb 172-AM
da Assessoria de Comunicação Institucional do IPEN